segunda-feira, 1 de janeiro de 2007

No Céu

E conheceu o azul mais azul que pode existir sobre - exatamente sobre - a face da terra. Um azul de tal tom, que deveria existir um nome especial, somente para aquele azul. No imenso azul de escuro profundo (chamemos assim o azul tao penetrante, uma vez que faltam palavras mais específicas) brilhava ainda uma estrela, intensa.
Imaginou que aquela estrela esperara por ela, para que, acordando, pudesse vê-la e pensasse o quao distantes estao as estrelas. E pensasse como era bonita aquela uma estrela, ali, despendindo-se dela no imenso azul, azul, veludo azul. O azul -azul céu de presépio?- era cortado, de ponta a ponta (mas onde é a ponta do céu?) pela linha mais perfeita que se pode conceber. Agora sim, podia dizer, conhecera o horizonte. Ele estava ali, cortando Azul, reta firme, segura, tracada sobre régua divina, dividindo o espaco entre as nuvens e o céu.
As mais belas nuvens sao aquelas, logo abaixo do céu. E o céu mais belo é o que se esconde acima das nuvens. A estrela, por estranho motivo, aguardava ainda.
Lá adiante, ela descobriu um mar de raios perfeitos, partindo de um ponto da reta, risco de céu. Raios tracados artísticamente e coloridos com todos os tons de doirado -e existem tantos- conhecidos e desconhecidos. Pouco a pouco, diminuia, a estrela, de vigor, como se entendesse nao dever -nem poder - ofuscar o que estava por vir.
E ela aproximava-se, rapidamente do doirado. Doirados sublimes, colhido pelos anjos nas mais ricas minas do Céu. Repentinamente -certamente ela se distraira- o céu estava claro e a estrela - para onde? - retirara-se respeitosamente. Os raios tornavam-se alaranjados, róseos, rubros.
E no exato ponto onde um matemático poderia definir o centro da reta - mas nao sao infinitas, as retas? - viu erguer-se, resplandecente de Luz, gigantesca Hóstia de ouro. Subitamente, as palavras deixaram de existir.
Entoou, em silêncio, uma Ave Maria. Murmurada, talvez apenas pensada, quem poderia dizer? E para que aumentar o tom de voz, se tinha todo o céu diante de si? E nao era, mesmo, o Céu?
Ela entendeu, entao, o porquê dos raios perfeitos, o porquê do Azul, o porquê dos doirados. E o porquê da última estrela.
***
Escrito diante do alvorecer mais belo que já pude ver. Deveriam existir vôos específicos para que as pessoas pudessem assistir este nascer-do-sol. Poderiam, entao, entender.