sábado, 20 de agosto de 2005

Elefante Branco

Aproximei-me, observei, não consegui controlar o nozinho qu nascia ali pelo meio da garganta. O pé da árvore não é um bom lugar: é lá que juntam as folhas varridas na rua, largam o lixo da casa e o dos vizinhos -que em sinal da mais pura solidariedade compartilham o local- colchões furados, caixas de papel usado, tralhas e trecos já sem utilidade. E nesse local tão triste abandonaram o elefante branco, que fui encontrar cabisbaixo e conformado com sua sina de lixo. Em breve passaria o caminhão da Comlurb ou qualquer interessado em recolher tralhas postas fora.
E ali estava o elefante branco.
Olhei para trás, para os lados, perscrutei a rua inteira, e certa de que ninguém me observava, acariciei de leve o velho elefante. Há quanto tempo não passava os dedos por suas enormes orelhas de elefante! O elefante branco chegou em casa há muitos anos, não posso definir quantos, mas certamente estava aqui antes de minha chegada. Enorme peça de louça, trabalhada artisticamente, é réplica perfeita de um elefante indiano- aliás, foi o único elefante indiano que vi tão bem visto até hoje. Em minha imaginação, pertencera certa vez a nobre príncipe indiano, como atestam os ricos tecidos coloridos que descem majestosamente por suas costas enormes, as argolas de ouro que enfeitam a barra do manto, as pedras preciosas que brilham na ponta de cada um de seus magníficos dentes de marfim.
De ouro e marfim, mas de louça; dourado e colorido, mas branco. Como deve ser um elefante de louça branca. Branco.
O elefante branco cresceu comigo, embora tenha permanecido sempre da mesma altura. Cresceu comigo e com meus irmãos, acompanhando a história da família. Ora alegre, ora triste, ora animada, ora monótona, ora isso, ora aquilo. Mais hora, menos hora, o elefante haveria de sofrer algo, nós sabíamos. Foi um amigo e confidente silencioso. Pacientemente, em sua calma de elefante, permitia sempre que alguma criança retirasse o telefone instalado em suas costas para montá-lo, muitas vezes batendo os pezinhos em seus delicados joelhos de elefante de louça. E uma a uma, cada criança da casa fez isso. Uma a uma. Até que todas as crianças passaram. E passaram.
Até que não havia mais criança para acariciar-lhe a tromba encostada à cabeça. E o elefante branco nunca reclamou por lhe tirarem o telefone do dorso -nem por deixarem o telefone lá-, nunca reclamou por esquecerem de limpar a poeira acumulada nos cantos de suas enormes orelhas de elefante branco, nem reclamou por ficar meio escondido atrás da enorme cristaleira de madeira. Em sua sabedoria hindu, o elefante branco sabia que as crianças o amavam, enquanto a cristaleira era amada apenas pelos adultos. Que não sabem amar de verdade.
Mas o tempo passou, a vida passou, as crianças passaram. Só o elefante ficou. Depois de tanto tempo, já não era tão branco (principalmente naquele cantinho da orelha onde esqueciam poeira), já não era tão jovem, já não era tão belo. Em suas aventuras pelas selvas africanas - porque muito embora o elefante seja indiano, toda criança montada em elefante branco desbrava selvas africanas- havia ganhado ferimentos. Aqui e ali, rachaduras. Parte de um dos grandes pés se perdeu, e nenhuma das crianças soube jamais apontar o culpado. E assim, sem parte de pata, rachado, quebrado e ferido, o elefante perdeu seu lugar atrás da grande cristaleira de madeira amada pelos adultos. Porque as crianças cresceram, e a casa passou a ter muitos adultos para amar a cristaleira e nenhuma criança que amasse o elefante.
No dia em que foi levado pra fora e colocado no porão escuro, o elefante branco deixou cair uma lágrima. Uma só, segundo me disseram, mas eu arriscaria dizer que houveram mais, no escuro do porão. O elefante sabia que do porão, ele só sairia para a árvore da frente. E como já sabemos, foi isso mesmo que aconteceu.
E foi nessa parte da história que, já apaixonada pela grande cristaleira de madeira, reencontrei o elefante branco. E lembrei das selvas africanas, e acariciei suas grandes orelhas cheias de poeira. Mais uma vez observei toda a rua, o coração aos pulos. Ninguém passava, e eu abri a porta de casa correndo. Era preciso correr, era preciso salvar o velho elefante branco. E o príncipe indiano que fora seu dono, os tecidos coloridos que o envolviam, as argolas de ouro, os enormes dentes do mais puro marfim, as selvas africanas. E a criança, montada em seu dorso.
Corri pela casa, à procura de meu pai. Era ele o verdadeiro dono do elefante desde que o príncipe indiano lhe fizera presente. Confesso que foi bem mais fácil do que pensei. Acho que meu pai também percebera a criança montada no elefante, mas não acreditara na visão e o abandonara lá, meio à contragosto.
Agora, gritava animado: -"Corre, corre na rua e recolhe o elefante branco! Depressa, depressa antes que alguém o carregue!!!"
Podia ser uma história triste, e então eu chegaria ao portão, e o elefante, a criança e tudo o mais já não estariam mais ali. Provavelmente seria mesmo uma história triste, se eu não tivesse corrido. Mas corri, e o elefante ainda estava lá, ao pé da árvore.
É um elefante pesado, mas naquele instante pareceu bem leve, mesmo com com todos aqueles tecidos e pedras preciosas e com a criança montada em suas costas. Talvez até por causa deles... Já em casa, escalei os degraus da escadinha de madeira que nos leva até o banquinho lá no alto. Sobre o elefante branco, visitei mais uma vez as selavas africanas. Tratei as feridas abertas em seus pés, dei-lhe um banho e limpei até aquele cantinho da orelha, sempre esquecido.
Depois, procuramos um lugar para ele. Provavelmente, o elefante branco pensou que voltaria para trás da cristaleira e estava até feliz com a idéia. Mas não. Encontramos um canto livre e iluminado, bem na metade da escada de mármore. Sobre o elefante, colocamos um vaso de flores. Prímulas e crianças parecem combinar bastante, se estiverem juntas sobre um elefante branco.
Eu não vi. Mas conta-se que o elefante não conteve um largo sorriso, ao passar pela cristaleira. Que amada só pelos adultos, continua sempre e sempre sozinha, na sala escura.

quarta-feira, 17 de agosto de 2005

Pra acabar logo

Antes de mais nada, estou vendo pontos de interrogação demais em alguns cantos da sala. Não sei o q houve. Já sacudi a caixinha do template, já apaguei e recoloquei os acentos, mas todos eles teimam em disfarçar-se de pontinho de interrogação! Como a professora está meio sem tempo, vai ficando assim horrorível. :(

Voltando aos boletins... Vamos ver... Os alunos matriculados após a entrega dos trabalhos - Beth, Hélvio, Leandro, e acho q só - não ganham boletim agora, lógico. Portanto, pelo q diz minha chamada, estavam faltando apenas estes. E aí estão:

Obs- Qualquer reclamação deve ser feita por escrito, anexada ao boletim devidamente assinado; e enviada ao escaninho.

sexta-feira, 12 de agosto de 2005

Enfim

Editei esse post, por erros técnicos. O texto original fugiu, caso alguém o encontre vagando por aí, envie-me. Tratarei de fixá-lo no mural, mais uma vez... De qq forma, os boletins da Adry e do alexei ainda estão aí...


Obs.1 - Os boletins estão saindo, sempre dois de cada vez, em ordem alfabética. Qualquer reclamação deve ser feita por escrito, anexada ao boletim devidamente assinado; e enviada ao escaninho.

segunda-feira, 8 de agosto de 2005

Presente

Levantou-se cedo, como fazia sempre, independente do horário em q fosse deitar. Sozinha, caminhou preguiçosamente até a varanda, puxando as cortinas. À sua frente, o mar. Respirou o sal q subia, deixou q os cabelos ventassem ao sabor da brisa marinha. Olhou para os lados, certificando-se de sua solidão. Então, deu um giro sobre si mesma, na ponta dos pés e sorriu.
Rapidamente, porém, dissipou-se o desenho do rosto, e fez-se mar em seus olhos. Encostou-se à parede e deixou q o corpo deslizasse, frouxo, até ver-se sentada no chão frio de ladrilho...
Tanto, já! Embora percebesse a pilha de tempo amontoando-se ao pé da cama, junto aos livros, não o vira passar. Não vira, e se houvesse visto, não permitiria q passasse assim.
Correndo.
Apressado.
Num sopro.
Qual o sopro da brisa do mar balançando seus cabelos. Num suspiro, desejou poder voltar atrás, para quem sabe, realizar o q o tempo não deixara. Repassou mentalmente todos os sonhos projetados para o futuro q se fazia presente.
Não fora à Europa. Não se casara. Não dirigia, não nadava, não aprendera matemática. Não tinha filhos, não adotara algum, não era diretora de um orfanato. Não terminara a pintura na parede de seu quarto, não fizera poesia, não chegara a bordar um quadro para a sala. Não fizera teatro, não escrevera um livro, não aprendera a cavalgar, não se perdera em uma ilha. Não comprara uma casa só dela, não, não era desenhista, não abrira uma confeitaria, nem era proprietária de um sebo, não pesquisara sobre a cidade. Não falava outros idiomas, não lera metade do que podia, não encontrara o príncipe encantado, não havia visitado um castelo, não entendia japonês, não se tornara atriz, não conseguira fazer um bolo de quinze andares, não aprendera a se organizar, não tocava nenhum instrumento, não não não nãonão...
Enxugou uma última lágrima teimosa, q dançava quase zombeteira, caindo sobre todos os nãos acumulados. Levantou o rosto desafiando a gota q descera. E observou o mar avançado e voltando sobre a areia. Todo aquele tempo, e o mar sempre o mesmo. Avançando e recuando, sobre a areia.
Ergueu-se. Ao lado da pilha de tempo, pousou a pilha de nãos. Trancou-as, juntas, dentro da caixa de madeira, e com alguma pressa e esforço, carregou-a até a porta. Precisava fazer tudo antes q os outros chegassem, impedindo-a. Com a caixa sobre os ombros, correu até a praia vazia. Ali, abriu uma cova funda, onde depositou a caixa do tempo passado e todos os seus nãos. Enterrou-a com cuidado.
As águas do mar, dançando, avançavam e recuavam sobre a areia. Correu pela praia, esquecendo-se o lugar onde escondera seus nãos. Enfim, parou um instante, cansada, observando o mar.
A água, avançando sobre a areia, beijou-lhe os pés, trazendo o presente. E recuou, de volta ao mar.
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Queridos, agradeço a todos pela festinha surpresa q me prepararam. Não tinha uma dessas, tão agitada e divertida desde os oito anos! Adorei ver todos vcs e todos os outros reunidos, apesar do desperdício de salgadinhos...

sábado, 6 de agosto de 2005

Canção que era

É, o blog está devagar. O q teria acontecido? Foi-se a inspiração da professora? Ou será apenas falta de tempo? Teriam terminado suas idéias? Teria ela encontrado outra coisa para fazer? Ou nada disso?!

Está à procura, ainda... De árvore, de parque, de chapéu, flores e sombras. Busca até mesmo a moça do livro, que fora do livro sonhava e dentro do livro vivia. Que vivia sonhando, que sonhando, vivia! Do tal parque, acho, ficaram só mesmo saudades de seguir por aquele caminhozinho triste entre as flores.

A moça, não sei! Ouvi-a cantando, dia desses e a canção não era feliz nem triste. Apenas era! Não sei o que foi, mas de repente, parece que todos sumiram. E o mundo se fez vazio... E existem vazios tão diferentes...

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As notas estão saindo, muita calma!!!

domingo, 31 de julho de 2005

Maratona de Contos

Mais uma vez interrompo a exposição... É coisa rápida. Só pra pensar...

(...)

Acabo de chegar da Maratona de Contos que o SESC está oferecendo gratuitamente neste final de semana. Contadores de histórias de toda a parte (e eu nunca imaginei que pudessem ser tantos!), todos reunidos e obviamente, contando sem parar, com muito talento, suas histórias. A maratona é tão animada, que vai por toda a madrugada e só termina amanhã à tarde. Por pouco não fiquei lá! Mas volto amanhã, sem dúvida, e cedo, pra não perder muita coisa!


Sempre fui apaixonada por histórias, cresci contando e inventando histórias. Costumava ser chamada para aniversários de priminhos mais novos apenas para distrair a criançada, sempre contando histórias. Naquela idade, não sabia que Contador de Histórias era profissão. Aliás, vim a descobrir isso há relativamente muito pouco tempo...

Meu maior sonho, então, era ser professora. Uma vez alcançado, lancei-me no alemão, por culpa de um certo escritor do qual já falei (e se não falo mais é por receio de não parar!), meio sem pensar. Mas aquela minha parte contadora de histórias, apaixonada por crianças, por folclore, por música, esteve sempre ali, levantando a voz pela manhã e se escondendo depois que eu liberava meus alunos.

Vez por outra, a voz gritou, pedindo para falar durante a tarde. Eu não deixei... Pensei até ter desaprendido a arte do gostar de contar histórias. Mas hoje, depois que me vi na Maratona, depois de ouvir tantas histórias... Ah! Ai, q vontade de lançar-me no meio daquele palco, para também contar histórias! Ai, que vontade!

A vida é estranha. Muita gente não sabe o que fazer no futuro. Eu simplesmente gostaria de fazer tudo, e de tanta indecisão só consigo fazer nada! Ora pretendo firmar-me na língua alemã, ora pretendo pesquisar sobre contos infantis, se agora gostaria de fazer literatura, logo mais estarei às voltas com minhas (ainda frustradas) tentativas de tradução. Hoje escrevo meio romance, amanhã o lanço fora e decido estar apenas com minhas crianças. Para em seguida pretender firmar-me na língua alemã... Aff!

São áreas tão próximas, e em sua proximidade, tão distintas! Não sei se este conflito tem fim. Não sei se poderei ser uma coisa só, ou se poderei ser todas. Ou se acabarei nenhuma. Não sei...


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O mais lindo do Contar Histórias, é que em geral não contamos histórias nossas. Tomamos o bem de outrem, transformamos em particular para depois torná-lo público. E a Miga trouxe um pra gente. Não como dever de casa, mas por ser tbm boa contadora de histórias...


Viagem Definitiva

E eu partirei.

E os pássaros ficarão, cantando; e meu jardim ficará, com sua árvore verdejante, e seu poço branco.
Todas as tardes o céu será azul e plácido; e os sinos da torre repicarão, como repicam esta tarde.
Aqueles que me amaram passarão, e a cidade desabrochará de novo a cada ano;
E meu espírito sempre vagará, nostálgico no mesmo recanto escondido de meu jardim florido...
E eu partirei;

E estarei sozinho, sem morada, sem árvore verdejante, sem poço branco, sem céu plácido...
E os pássaros ficarão, cantando.

(Juan Ramon Jiménez)


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Muito lindo, Miga! A tradução foi sua? Encontrei o mesmo poema em um blog, no original e em uma tradução de Manuel Bandeira. Interessante ver... Obrigada, Miga, continue sempre assim! ;)

quinta-feira, 28 de julho de 2005

O poema da Adry

Sabiam q temos uma amiguinha poeta? Vejam só o trabalhinho da Adry:

Aprovada

< Interrompemos nossa exposição apenas para informar que a professora foi aprovada no exame teórico do DETRAN e está malucamente satisfeita. :-) Muito obrigada por torcerem por isso... próxima torcida só daqui há mais ou menos um mês, depois das aulas práticas. Enquanto isso, prosseguiremos com nossa programação normal.

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Postes... tremei!!!

domingo, 24 de julho de 2005

Ainda nossa exposição

Com vcs... o desenho da Miga, nossa Amiga Formiga!



Miga manda dizer que qualquer semelhança com Mafalda de Quino não é mera coincidência. Atenção: Não deixem passar a chance de ver Miga por ela mesma - experimentem aproximar o desenho e vejam quem caiu do alto do jacarandá no ombro da menina...
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Olhem, Miga está faltando aulas, mas já apresentou o atestado médico (favor enviar e-mails desejando melhoras.) A mamãe da Adri mandou avisar q estão viajando... Aos alunos q ficam: façam o favor de participar da aula! (não é uma ameaça, só um pedido delicado...) Imagine, ficar sem alunos nas férias! Isso seria muito triste! :(

sábado, 16 de julho de 2005

Karl May

Comecei cerca de três posts, mas acabei desistindo deles; ficaram todos muito compridos e estou tentando economizar palavras e falar menos abobrinhas. Se ao menos falasse brigadeiros como aqueles da festa da Adry! Gente, novo livro no Cantinho de leitura, perceberam? Toda vez que começo a falar deste livro, falo demais... Ai! É um dos melhores livros que conheço. Tinha muito mais a falar sobre ele, mas achei demais para o cantinho, então vou terminar aqui... Nem sei por onde começar. Karl May é t-u-d-o!!!

Meu amado, idolatrado, salve,salve escritor.

Karl May escreveu muitos, muitos livros, parece que mais de sessenta romances e muitos contos, q resultaram em mais uns vinte livros. Nossa, as aventuras narradas por ele são incrivelmente envolventes, emocionantes e divertidas. O autor é de um humor inteligente e de uma graça cativante... E a professora é suspeita para falar, pq é abertamente apaixonada pelo autor e por seus personagens. À propósito, o escritor casou duas vezes, e o último casamento foi com uma moça bem mais jovem q ele, xará da professora. Nada a ver, mas qd eu descobri, achei o máximo!!!

Karl may e Klara, a felizarda.

Falando sério, não conheço ninguém que, começando a ler, tenha conseguido abandonar a história pelo caminho. A grande maioria lê todos os 30 livros traduzidos, rapidinho... Foi o que fiz nos meus já loooonges 13, 14, 15 anos. Li tudinho, e decepcionada por não poder ler os outros deixados pelo escritor, comecei a estudar alemão. A idéia é, um dia, traduzir os livros que faltam na coleção para o português. Winnetou é uma trilogia, e aconselho procurar os três livros e comprá-los todos de uma vez, pq é acabar um, ler o outro. O cacique dos apaches pode ser encontrado em vários outros romances, depois de Winnetou. Além de Winnetou, Karl May criou outros personagens cativantes e inesquecíveis, entre árabes, norte-americanos, sul-americanos, índios, europeus, africanos e tantos outros povos que estão nos livros que ainda não pude ler. Mas que devorarei em breve...

Até bem pouco tempo, eu conhecia realmente bem poucos leitores de May: meu pai, meu padrinho (q me apresentaram aos livros), meu irmão - que leu tudo antes de mim, e minha prima, que me acompanhou na leitura e também começou a estudar alemão.... Infelizmente, desistiu depois que chegou aos números, e o entusiasmo dela por May foi declinando, até quase o esquecimento... :( Mas lá no Orkut, com a comunidade Karl May, descobri mais de 40 leitores pelo Brasil afora, e fiz muitas amizades. Entre elas, um amiguinho aqui da nossa sala. Somos um público seleto, porém cada vez maior! Bem que todos os alunos poderiam fazer parte do grupo... Mas precisa ler, só estar lá não adianta! Tenho certeza, vcs não se arrependerão da empreitada!

Existem muitos escritores brasileiros que leram Karl May na adolescência, entre eles Lya Luft e Fernando Sabino. De Sabino, recolhi a seguinte frase: "Meu autor predileto era Edgar Wallace. Pouco depois passaria a viver sob a influência do livro mais sensacional que já li na minha vida, que foi o Winnetou de Karl May, cujas aventuras procurava imitar nos meus escritos." Também eu devo a Karl May o meu entusiasmo pela leitura e pela escrita. E um monte de idéias, informações culturais, muito da pessoa q sou hoje. Ele me influenciou profundamente... Com seus livros, aprendi muito e ionteressei-me enormemente pelas culturas árabe e indígena, em especial. E através dele, encontrei meus rumos profissionais, que seguem a trilha da tradução e da cultura germânica.
Embora seja um autor normalmente procurado por jovens, nunca se é velho demais para ser jovem, ou para deliciar-se com aventuras jovens. Além disso, depois de mais amadurecidos somos capazes de perceber idéias q passam direto qd ainda somos muito jovens. Como li na página da Karl May Verlag, a editora alemã responsável pela publicação da obra em alemão, "Es ist nie zu spät für spannende Abenteuer": "Nunca é tarde demais para aventuras emocionantes" - viram, já estou traduzindo?! :-P

Falei em Karl May, falei demais... perdão! Mas ele merecia muuuito mais! Em tempo: pretendo começar a postar os trabalhinhos de vcs logo, logo. Só vou dar um tempo pra todo mundo digerir este post e se entusiasmar pelo escritor.

sexta-feira, 15 de julho de 2005

Festinha

Olha aí, gente!

A mamãe da Adry veio bem cedinho à escolinha, pedir à professora para deixar este convite no mural. Como já é sexta-feira, e nossas férias começam na segunda, decidi liberar os alunos. Vamos todos à
festinha da Adry!!!

E aproveitem, pq acompanhei os preparativos e tem torta de mousse de chocolate, brigadeiro, casadinho, beijinho, olho-de-sogra, surpresa-de-uva, pão de queijo, risole, coxinha, boliviano (o q é isso?!), pasteizinhos e muito mais.... A professora estará lá, portanto trabalhinhos somente no escaninho.

segunda-feira, 11 de julho de 2005

Bia Bedran

Perdido em alguma linha da agendinha, há um comentário sobre a Bia Bedran. Para quem ñ conhece (como? Nunca ouviu falar?!?!), Bia é cantora, contadora de histórias, professora, pesquisadora, escritora (...) e faz um trabalho maravilhoso voltado para a educação infantil. Ela já teve, na TV Cultura, um programa chamado Canta Conto, q passou por muito tempo. Lá, ela cantava e contava histórias para as crianças, ensinava músicas, brincava com o folclore, ensinava... Pena q tudo o q é muito bom, sempre acaba rápido!
Bia tem nove cds lançados e 3 ou 4 livros publicados, todos muito bons! Um material verdadeiramente precioso, em todo o amplo sentido da palavra.

Bom, através de músicas e histórias pesquisadas pelo Brasil afora, Bia Bedran resgata nossa cultura, nosso folclore e entrega tudo isso às nossas crianças. Que, por sinal, estão cada vez mais necessitadas de alguém q pense nelas.... Bom, a professora cresceu ouvindo e cantando Bia Bedran, virou fã da Bia Bedran e, claro, criou a comunidade Bia Bedran no Orkut...


Mas o q eu ia contar ñ era isso. Desde q comecei a trabalhar com crianças - muito provavelmente influenciada por Bia Bedran - sempre sonhei em levar meus alunos a um espetáculo dela. Afinal, trabalho com as músicas e histórias dela em sala de aula o tempo todo. Mas... levar alunos em aos espetáculos dela é complicado... Costumam ser na zona Sul, bem longe da nossa escola, costumam ser caros (para o bolso deles) e cosrtumam ser apenas nos fins de semana, dias em q escola não funciona para os alunos.

Como levá-los até o espetáculo sem ser em um passeio escolar? Bom, a professora maluquinha reuniu os pais e avisou aos poucos q estavam presentes (em uma turma de 27, apenas 5 responsáveis compareceram!) , q a Bia Bedran estava se apresentando neste fim de semana. Claro, eles disseram q ñ poderiam levar e tudo o mais. Aí... Aí, descobri q por serem alunos do município, pagavam somente meia entrada.... Melhorou muito! E disse aos pais que, como ia levar minha irmã caçula ao teatro, poderia perfeitamente levar mais algumas crianças... Aí é q está a maluquice, na opinião geral... Sem ser dia letivo, sem ser passeio da escola, sem sequer relacionar o passeio à escola - e era mesmo um passeio particular -, levando apenas algumas crianças (dos pais q compareceram à reunião), e pegando carona no carro do papai, q gentilmente cedeu transporte gratuito para a professora, carreguei meus alunos para o espetáculo "Brinquedos Cantados", na tarde de sábado. Muito, muito bom! As crianças adoraram, foram centro das atenções no teatro (depois da Bia, naturalmente).

Sentamos enfileirados, um ao lado do outro. Cada vez q Bia cantava uma música q as crianças conheciam, elas se levantavam, aplaudindo e dando pulinhos, e participavam da atividade. A proposta do espetáculo é essa mesma, q as crianças e os adultos participem, q brinquem como crianças. Mas a minha turminha era a mais animada (professora coruja), a mais linda, a mais fofinha! :)

Eles participaram, cantaram, adoraram tudo e me pediram pra gente sair juntos mais vezes... Eu bem q queria, mas esse tipo de passeio envolve responsabilidades homéricas... Mas eu queria, muito! Uma das minhas meninas está interessadíssima em conhecer a Biblioteca Nacional e o Real Gabinete de Leitura... (Oh, de quem será a culpa?) Meu pai fez um caminho comprido até o teatro e fomos passando pelo centro do Rio. As crianças vibravam, davam gritinhos... E eu, louca de vontade para levá-los em um passeio pelo Centro da Cidade. Andar pelas ruas antigas, passear no bondinho de Sta.Tereza, sobre os Arcos da Lapa, visitar o Theatro Municipal e a Biblioteca... E quantas bibliotecas e sebos fossem possíveis! Por enquanto, fica na minha lista de desejos... Como tantos outros desejos. Desejos são entes estranhos. Uns tornam-se realidade, outros não... Uns nos fazem felizes, outros ficariam melhor apenas no mundo dos sonhos...

Nem todos são possíveis, e eu nem saberia definir bem quais deveriam tornar-se realidade, quais não... O passeio dos meus alunos, certamente sim... :-P

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Aos aluninhos desta salinha: Obrigada por tornar este Blog realidade... Vcs são todos muito fofinhos (seja lá quem são vcs...)!
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Atenção, atrasados: a maioria dos alunos já entregou o trabalhinho! O prazo está se esgotando! Corram e coloquem, bem bonitinho, a sua criação no
escaninho da professora, até o próximo fim de semana...
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À quem interessar possa: Bia se apresenta em todo o Brasil. Ela estará em Fortaleza, semana q vem, me parece. Se quiserem vê-la, acompanhem a agenda dela,
por aqui.
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Grande este post, não?

quinta-feira, 7 de julho de 2005

Ficou lindinha, a minha provinha...

É, até provas devem ser estimulantes, ainda que através de desenhos e, quem sabe, questões inteligentes ou simplesmente menos chatas. He, não consegui isso tudo, mas bonitinha, isso a prova ficou! E a professora ficou tão satisfeita em terminar mais este trabalho ( e deu uma trabalheira!) q resolveu escrever isso aqui...
É, essa salinha é o lugar em q a professora mais se sente ela mesma (ai, q perigo!), e acaba precisando manifestar sentimentos neste espaço. Se não for aqui, será onde?! Ah... Não posso postar a prova aqui, q pena... Sabe-se lá se algum aluno - sim, eles invadiram meu Orkut! -encontra a prova inteirinha postada aqui? Peninha... Ahn, por causa dela, nada de msn ou orkut hj.... Mas terminei!!! Depois (ai, depois vem a correção :-( !!! ) comento o resultado.
Se eu lembrar! Boa noite!!!

sábado, 2 de julho de 2005

Sobre o fim de semestre



Oras, as férias começam tarde aqui, e nem durante esse tempo a professora vai parar! (Ela é maluquinha!) Acontece que, antes das férias, em todas as escolas,os alunos passam por avaliações e recebem suas notas. Muito bem, em nossa salinha não será diferente; não, não! Todos que passaram e passam por aqui durante o ano receberão notinha: uma por participação, uma por comportamento (!!!) e ainda uma última, pelo trabalho final do semestre.


Portanto, todos os alunos estão convocados a enviar seus trabalhos de conclusão do semestre para o escaninho da professora. Alguns já fizeram isso - daí, a idéia maluca. Tá valendo tudo: desenho, texto, piada, carta, poesia e até lista de supermercado, desde que muito criativa. E se quiserem posso postar os trabalhinhos no blog também. Eu sei o quanto as crianças gostam de ver seus trabalhos expostos pelos murais da escola...




Não, a professora não enloqueceu de vez, continua tão maluquinha quanto antes. Nada mudou! Mas meus alunos são tão participativos, que o blog se transformou em um espaço interativo. Se não enviarem o trabalhinho (ainda que anotado na "Agendinha"), vai ficar um zerinho ali no boletim...


E a professora vai ficar muito triste!


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Novidades no Cantinho da Leitura. Quem já leu? Quem leu alguma coisa? Comentários sobre Quintana são muito bem vindos!
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Notaram? A Miga sumiu tão rápido quanto apareceu. Deve estar procurando o Anônimo...

segunda-feira, 27 de junho de 2005

Retalhos

Completamente sem tempo, devido a mais um final de semestre cheio de trabalhos, provas, planejamentos e correções, deixo para meus queridos alunos e visitantes um texto fresquinho, fresquinho. Foi escrito para apresentar ao professor de Literatura Portuguesa, como síntese de suas (loucas) aulas. Vejam aí o que saiu, e se quiserem, tentem entender. Eu mesma, não entendi nada!

Retalhos

"Começava seu trabalho cada dia mais tarde. As estrelas há muito já haviam despontado no céu, e a lua, devaneio do sol, clareava a escuridão da noite. Sentada em frente à janela, tomou linha e agulha, e mais uma vez, pôs-se a cerzir.
Os livros, abandonados sobre a prateleira mais alta, denunciavam sua recente decisão: não lia mais; abandonava o mundo dos sonhos para viver fora deles. Viver, era somente o que queria.
Pegou do primeiro retalho, retirando-o às escuras de dentro do cesto. Tampouco se preocupou com a cor do segundo ou do terceiro pedaço de pano, ocupando-se apenas em unir fortemente uma ponta do tecido à outra. No início, ela mesma não acreditava ser capaz de fazê-lo. Embora parecesse um trabalho bem simples, desde cedo sentira dificuldade em combinar retalho com retalho, e tinha medo de errar. Até convencer-se de que errar era tudo a fazer. Tentar errar era a única possibilidade. Se não conhecia o acerto; se não havia o quê acertar.
Ler, já não lia mais. Pensava haver descoberto, enfim, a razão de seus tormentos. Entremeada em meio às letras sobre o papel, escondera-se durante toda a vida, acreditando viver. E vivendo assim, não vivia. Ou vivera tão intensamente que se tornara incapaz de distinguir vida e sonho.
Agora, apenas tecia. Tecia, e lançava um olhar desconfiado onde encontrava um pontinho solto. Desfazia então toda a costura, até voltar à falha cometida, puxando naquele espaço a linha com um pouco mais de firmeza.
Puxão ressentido, severo. Como o olhar que lançava aos livros, presos sobre a prateleira mais alta.
Puxava firmemente a linha da cor de suas idéias, que descoloridas, tomavam emprestadas as cores que bem entendiam. Azul, cor do céu que ela já não via, concentrada em seu trabalho noturno. Linha negra, tal a noite escura que a envolvia, amarela, como o dia. E ela, ocupada, apenas unia retalhos e puxava a linha onde encontrava pontos soltos ou falhos. Lá de cima, os livros confessavam, em seu silêncio, toda a culpa. E por castigo estavam ali, impedidos de interromper mais vida. Impedidos de sonhos ou devaneios. Impedidos. E confessavam, silenciosamente, sua culpa. E ela tecia.
Com fios fortes, tecia um retalho a outro, sem escolher cor, sem procurar tecido. Só tecia. E na certeza de entender bem como costurar seus retalhos, sentia-se senhora de seu tear como jamais se sentira senhora de algo antes. Ali, diante de seu trabalho, acreditava reinar sozinha. E por isso, para isso, condenara os livros à prateleira mais alta e distante, tentando torná-los longe de sua vida. Para reinando, viver.
Dona de suas idéias perdidas, de seus sonhos e devaneios. Tecendo, prendia-os todos, mal nasciam, por entre as dobras de tecido com que compunha seu trabalho, de onde não os deixaria jamais sair. Reinava, mantendo-os presos, como mantinha os livros sobre a prateleira mais alta.
E foi de repente, no cerzir de um retalho, que aconteceu. E ela não saberia dizer como ou quando foi. Nasceu pequeno, bem como nascem as pessoas, escondido entre os pontos falhos da costura. E por mais que ela puxasse a linha, não conseguia fazê-lo sumir. O ponto solto não se acertava, a linha afrouxava contra a vontade da costureira.
Lançando à prateleira mais alta um olhar perdido, considerou seu passado. Pensando, se houvera erro em viver, ou se o erro era viver assim. A idéia encheu-a de espanto. De onde lhe vinham tais idéias, tão fortes que não as conseguia prender nas dobras da costura? De onde vinham, se não pensava, se apenas tecia?! Se apenas unia retalho a retalho, escondendo qualquer idéia que pudesse atrapalhar seu trabalho.
O sol, ainda há pouco morto, já implorava às estrelas que o deixassem ressuscitar. E a moça, silenciosamente juntava seu retalhos. Cuidava, desperta em meio à noite fechada, daquilo que pensava. Decidida a viver fora dos sonhos e senhora deles, mantinha-se acordada. E olhando para os livros, estranhou o sossego reinante sobre a prateleira mais alta. Tramavam algo.
Ela, eles, no silêncio do quarto, na escuridão enevoenta da madrugada. Fria madrugada, durante a qual mesmo as estrelas dormiam. E ela guardava, entre sonho e vigília, um sonho que tivera e que era sombra de sonhar. Pensou , sem querer pensar, no trabalho que fazia. Colecionadora de retalhos, unia-os numa tentativa errante de jamais perdê-los. Pensando, admitiu também ela, em silêncio, sua culpa. Roubava. Aqui e ali, recolhera os retalhos que agora unia, furtando-os para si. Para seu trabalho. Fazendo-os seus, embora soubesse que não eram. E era assim, entre sonho e vigília, que tomava da linha sem cor e costurava seus retalhos. E a linha, tomava então a cor dos pensamentos que ela não sentia. Que insistiam em ser pensados, embora estivessem - ela pensava - presos, sobre a prateleira mais alta.
Depois de nove ou dez noites, compreendeu com amargura, não ser ela quem reunia os retalhos. Uniam-se eles sozinhos, senhores de si, escolhendo a ordem ou posição que deveriam tomar. A ela, cabia apenas puxar a linha descolorida, cor de seus pensamentos, algumas vezes descobrindo os pontos falhos que, apesar de sua insistência, teimavam e permaneciam nas rugas da costura. Ela não pensava, pensava. Não pensava, pois os mantinha sempre presos. Eles, fechados, condenados à prateleira mais alta, fingiam não pensar também. Mentiam todos, eles e ela. E os retalhos. E a linha descolorida que tomava cor, ainda que ela não notasse. Mentiam todos. Mentira pesada, que sustentava o tecer.
E sustentava, noite após noite, os sonhos que a moça não sabia sonhar. Aqueles sonhos que, vigiando para que não tomassem forma e vida, sonhava sobre os sonhos de ontem, tecendo - como os retalhos - o sonho que sonharia amanhã. Que sonhava, todas as noites. Vigiava, pois não queria sonhar para que seus sonhos, uma vez vivos, não fugissem.
E foi no fazer do último nó do último ponto, fechando enfim sua reunião de retalhos, que ouviu, sabe-se lá vinda de onde, a pergunta que sem saber, ela mesma imaginara.
"Retalho a retalho, quem tece, quem teceu?"
Num sopro, temerosa por interromper o silêncio de madrugada com o qual a madrugada a envolvia, murmurou apenas.
"Eu."
A palavra ecoou pelo quarto escuro. Livre a palavra, libertaram-se os livros da prateleira mais alta, voando todos em torno dela, quais morcegos despertos. Até pousarem, um a um, sobre a colcha de retalhos tecidos pela cor de suas idéias.
Sentindo que nascia o sol, se cobriu.
E adormeceu sob os retalhos."

sábado, 18 de junho de 2005

Novidades

Mais novidades nesta data especial!!!

"Novidades? Data especial?" Perguntam-se todos. "Essa professora é mesmo muito maluquinha!", exclamam, balançando a cabeça.... É, muito, muito maluquinha e sempre antenada em datas virtualmente importantes. (As importantes na vida real, às vezes passam desapercebidas...) Como tooooooodos vcs devem ter notado, estamos completando mais um mês da chegada de Anônimo, o Primeiro. Aquele que segurou a professora quando ela já ia desabando pela janela abaixo. São dois meses de blog animado, posts fresquinhos, chat-blogger, perdição de tempo e muitas surpresas virtuais. Neste meio tempo, mudamos o visual e acolhemos novos amigos...
Em homenagem à esta data virtualmente I-N-E-S-Q-U-E-C-Í-V-E-L (ai, é difícil escrever assim!), tenho a honra inestímavel e o maior prazer em lhes apresentar a nova seção Cantinho da Leitura. O Cantinho é uma prateleira grande e colorida pendurada num cantinho da nossa sala, onde a professora vai, aos poucos, montando uma seletíssima biblioteca. ("Ohhhhhhh!!!", exclamam os alunos admirados.)


Toda semana, se possível, trarei uma novidade para nosso cantinho; assim, mesmo que eu não tenha tempo para pôr um texto novo, pelo menos o livro nosso de cada semana não nos faltará. Como já devem ter notado (meus alunos são todos muito muito inteligentes), clicando sobre a capa do livro vcs estarão diretamente na página de uma livraria, onde poderão comprar o livro de vcs também... (Não, não recebo pra isso, embora esteja pensando em cobrar pela propaganda.) Sob a figura, fiz uma brevíssima e atrapalhada resenha do romance, seguida por um trecho que, por qq motivo - mesmo o acaso - me agradou.

Comecei com Thomas Mann não por gostar mais dele ou do romance, mas simplesmente por ter terminado de ler o livro na semana passada. Pretendo seguir sempre esta idéia, colocando no Cantinho o livro que estou lendo ou q li mais recentemente. Claro que de vez em quando, vou trazer um da minha lista de prediletos. Eles também estão doidos pra conhecer vcs!!!
E isso é tudo, crianças! Espero q gostem da pequena surpresa... Espero tbm que, depois de se ver lembrado, o meu caríssimo Anônimo volte correndo para a sala de aula - evasão escolar é uma coisa muito triste! Muito obrigada a todos (seja lá quem são vcs!) por sua inenarrável presença! Espero, daqui há algum tempo, poder fazer a edição comemorativa de 1 ano com a mesma animação de agora. Conto com vcs! Todo professor precisa do entusiasmo de seus alunos para funcionar! Agora preciso ir.. A professora está se atrasando para a festa junina do Colégio Cruzeiro...


Até!!!
___________________________

P.S. Quem já leu o livro ou tiver qq coisa a dizer sobre ele, não deixe de comentar! Lembrem-se:Vale ponto na média!!!

sábado, 11 de junho de 2005

E por falar em nomes...



(Uau! Notaram o estilo quase acadêmico?:P He, cansei...)


Dia desses estávamos falando sobre nomes e sobrenomes (gostei disso..) durante a aula. Como este tema também já foi comentado aqui, por Anônimos e meninos de nomes exóticos, achei q era hora de se falar no assunto. Na minha salinha, inventei de fazer uma carteira de identidade (de cartolina mimeografada) para cada aluno, e comprei um cd do Toquinho com a música "Gente tem sobrenome" (aliás, com músicas muito bonitinhas. Não conhecia o alfabeto do Toquinho...).


Logicamente, falamos sobre o nome dos pais de cada um, sobre o motivo da escolha de cada nome e por aí afora... Daí, lembrei-me de um ou outro caso acontecido na escola, que ouvi de alguma professora logo quando comecei a trabalhar. Conta-se, que certo dia apareceu uma avó muito indignada na escola, por causa das notas baixas do neto. Pediu pra falar com a professora do Fábio Júnior (não o cantor, e sim o aluno :P) E lá foi a secretária, tentar descobrir de que turma era o tal menino. (é, é assim mesmo... A maioria dos irresponsáveis não sabe a turma e a professora de seus filhos... )


Depois de muita busca, informaram à avó de que não havia nenhum Fábio Junior matriculado na escola. Ela, mais que depressa, pôs-se a descrever o menino e contou um ou dois casos entre os que ele já aprontara na escola.... "Mas minha senhora..." Contestou a secretária "Este aluno se chama Roberto Carlos!" "O quêêê?!" E a avó, apertava a cintura com as mãos, entre surpresa e indignada. "Ah, bem q eu imaginava que o mentiroso do pai dele não tinha colocado o nome que eu pedi..." E a mulher voltou pra casa, jurando vingança contra o genro (ou filho, sei lá...) Se todas as histórias fossem simplesmente engraçadas, seria ótimo. Mas houve uma vez em que a mãe, vindo matricular o filho caçula, Marlom, perguntou à secretária o sobrenome da criança mais velha, que já estudava lá há alguns anos. "Juan Da Silva Rodrigues." Responde a secretária, solícita. "Ahhh! Obrigada, viu?"Agradeceu a mãe, enquanto se explicava "É que estava em dúvida se o Juan era filho do pai do Marlon também, ou não..." Não era... Nem o Marlom, nem o Jéferson, nem o Bredi. A mãe simplesmente não tinha mais certeza de quem era o pai de cada filho...


Pode?! E tendo falado em nomes próprios (Tais como Bredi), acho incrível a quantidade de alunos com nomes "estrangeiros" que nos aparecem. Cada dia me cai um mais interessante em mãos... Como deixar de citar o Uberlam? O Maicom Jeckinsom? O Miller? E o surpreendente Benhur Leonardo?! E ñ podemos esquecer o Rerissom. Quem?! Ora, o Rerissom, professora! Daquele ator do Indiana Jones... Rerissom For! (Vão dizer q ñ o conhecem?) Todos exemplos vivos de criatividade... (Haja criatividade para se escrever desse jeito!)


Este ano, temos uma menininha que, ao ser chamada pela professora: "Nathally", emenda com um "Nathally Brenda, tia!" Sim, façam o favor de chamá-la pelo nome completo! Entre os melhores casos com nomes femininos, temos uma que se chamava "Tebesthilda". Eu não a conheci, mas reza a lenda, que era exatamente assim. Como a menina reclamava, dizendo que a professora não sabia falar o nome dela direito, o pai foi chamado à escola. "Não, professora! A senhora não fala o nome direito por que é inglês!" E explicou , rindo do pouco conhecimento acerca de línguas estrangeiras, por parte de uma professora: "A mãe dela era Hilda, igual à avó. Ela também é Hilda, mas é a melhor de todas..." Muito lógico, não é verdade?


Isso, sem falar nos casos de combinãções tristes e infelizes... Já aconteceu de uma professora, em uma reunião com os pais responsáveis por sua turminha de jardim (E.I, prézinho ou como vcs quiserem chamar...), ao ler mecanicamente o nome de seus novos alunos, chamar pela mãe do "Davi Adão"... Infeliz cacofonia, que provocou risos e deixou a mãe constrangida. E houve a Ângela, que em todos os documentos era Ângela, mas que no dia-a-dia, era chamada de Isabel... "Professora, A Bebel tá se comportando bem?" "Quem?!" "A Isabel, professora!" "Mas não tenho nenhuma Isabel na sala, minha senhora!" E a mãe, depois de pensar um pouco: "Ah, é, desculpa... É que eu queria Isabel, mas o pai registrou Ângela. Se a senhora quiser, pode chamar de Isabel tbm, é assim que os amigos chamam..." E um caso parecido, o do Wagner, que era chamado sempre de Júnior pela família. Mas que não tinha Júnior no próprio nome... Todos os dias, me dizia que ia trocar de nome, que achava Wagner muito feio... Nunca o fez, até pq não chegou ainda aos 8 anos de idade, mas só imaginem como fica a criança, em plena fase de construção da identidade...


Identidade?! Hum, melhor não imaginar nada... Já temos identidades secretamente perdidas o bastante pelo blog...

domingo, 5 de junho de 2005

No quadro


Notem, caros alunos, o nome do menino que recusou-se a responder à uma pergunta da professora. Ele está de castigo, e serei obrigada a conversar com o responsável dele ( A Mãe do Anônimo, claro, como poderia ser outra pessoa?!) na hora da saída... Nunca façam como ele, crianças! Devemos sempre contar tuuudo às nossas professoras, especialmente quando elas são maluquinhas!

Atenção: A letrinha do quadro é, obviamente, de uma das aluninhas recém alfabetizadas, dessas que adoram dizer: "-Tiiiia! Deixa eu escrever no quadro?!"

Você não havia acreditado na professora, não é, Anônimo?! Ora...

sábado, 4 de junho de 2005

"Uma formiguinha atravessa, em diagonal, a página ainda em branco.
Mas ele, naquela noite, não escreveu nada.
Para quê?
Se por ali já havia passado o frêmito e o mistério da vida..."


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Um pouco de Quintana, na falta de tempo... (Só tempo, idéias não faltam nunca...) Para que meus Anônimos não fiquem sozinhos.

sexta-feira, 27 de maio de 2005

História que a flor trouxe


Ventava... Folhas e flores despetaladas giravam em pequenos rodamoinhos, enfeitando mais uma tarde triste. A menina, debruçada sobre o peitoril de mármore, lia mais um livro. Acompanhava a história docilmente, deixando que o vento virasse as páginas para ela, numa concentração vagamente desconcentrada. Foi quando uma pétala lilás, enviada por um vento travesso, pousou gentilmente sobre a página que lia.


Neste instante, o livro tornou-se outro, e a moça lia uma história já muito conhecida por ela. Nela, o moço passava pelo parque cumprimentando-a, dia a dia, até esquecê-la. Até não passar mais. Mas ela o esperava sempre, até convencer-se de que ele não vinha mais. A menina deixava o parque, sem rumo, para trancar-se em casa, onde esperava, nunca mais o moço passasse. E ele não passava mesmo, estava escrito assim, no livro. Tudo o que passava era aquela sombra de chapéu nunca usado. Sombra rápida, fugaz, mas uma sombra que fazia ventar e agitava as flores na janela. E provocava o sorriso teimoso e triste. Como já conhecia essa parte da história, a menina apenas passou os olhos sobre os parágrafos seguintes, pulando logo para o novo capítulo. Esperançosa, acreditava finalmente poder ler pouco adiante uma história mais feliz. Surpresa, deparou-se com ele, ali, logo na primeira linha.

Ele, as ondas de seu cabelo, o chapéu que não usava e o sorriso musical que a encantara. Caminhava elegantemente por sua rua, até parar em frente à sua porta. Nos braços fortes, uma braçada de flores em diversos tons de azul, rosa e lilás. O mesmo lilás daquela pétala que o vento lhe trouxera.

Angustiada, a moça perguntou à si mesma dentro do livro porque se demorava na janela, ao invés de correr para a porta. Ao invés de atirar-se naqueles braços. Ao invés de fugir com ele para longe do parque, à procura de um outro parque, onde afinal, tudo poderia ser diferente. Um capítulo onde todos os futuros do pretérito conjugados por ela se tornariam realidade!

domingo, 22 de maio de 2005

Amor Antigo


De todos os meus amores, o mais forte, com certeza, é meu amor pelos livros. Não falo de um amor prosaico ou vulgar, nem de um sentimento figurado, mas de algo real, um amor autêntico, digno de figurar em romances. E se não fosse meu amor pelos livros, certamente não haveria histórias de amor para serem contadas pela Professora.

Minha história com os livros já vem de um longo tempo, provavelmente é anterior à minha alfabetização. Ainda não sabia falar, meu pai já deixava livros espalhados pelo berço. Conta-se que, já nesse tempo, eu os abraçava, beijava, mordia e dormia juntinho, em visível demonstração de amor.
Naquela época, eu não sabia, os livros já haviam me seduzido e conquistado... E para que eu possa prosseguir com essa declaração, é bom que fique claro: falando em amor por livros, não me refiro à Literatura. Sim, amo Literatura, mas meu relacionamento com o livro, o condutor da literatura, é muito mais intenso.
O amor que sinto por eles é fascinante. Primeiramente, por ser o primeiro amor, aquele do qual a gente nunca esquece. Depois, por ser um sentimento sempre em movimento ascendente, isento de fases enfadonhas ou tediosas. E por último, talvez o mais importante: meu amor por livros sempre foi um amor correspondido. Eles me amam tanto quanto - ou até mais, quem sabe? Amor não é sentimento que se possa medir! - eu os amo...
Essa descoberta, fiz já adolescente ou talvez até um pouquinho mais tarde. O cenário da primeira declaração não poderia ser melhor: o centro da Cidade Maravilhosa - outra desvairada paixão. Que eu os amava -aos livros, já sabia. Andava constantemente com um na mochila ou debaixo do braço, sempre coladinho a mim. Livrarias, sebos e bibliotecas já eram, há muito tempo, meu habitat natural. Eu já conhecia o prazer de tocar uma lombada, de assoprar a poeira acumulada e de sentir o odor amarelado de cada uma das velhas páginas. Ou o cheirinho de livro-neném - aquele recém saído da editora, pálido, quase sem graça, implorando por atenção e pelo contato dos dedos do leitor. Mas em sua fragilidade de livro jovem, sempre cheio de charme pra mim... Eu já sabia o tamanho da minha paixão.
O que eu não sabia, era que também os livros sentiam o mesmo por mim. E o quanto, e a quanto tempo, eles vinham tentando manifestar seu carinho, sem que eu fosse capaz de perceber. Pois foi em minha primeira visita à feira de livros que ocorre regularmente no Largo da Carioca, que fui capaz, afinal, de compreender a manifestação amorosa deles. Eu passeava pela feira despretensiosamente, quase sem pensar. Apenas observava os livros pousados nas barracas e os valores baixos das promoções. Não via nada que me chamasse à atenção, ou ao menos que fosse interessante e barato a um só tempo, como convinha às minhas posses de estudante-do-ensino-médio-com-dinheiro-contado-para-o-ônibus.
Foi quando eles me chamaram. E quando eu os ouvi. Nessa primeira vez, tive apenas a leve impressão de ter escutado meu nome. Olhei à minha volta, e ali estavam eles; os dois belos volumes de "Quo Vadis", em encadernação vermelha e dourada. Quo Vadis, quo vadis?! Perguntei-me e exclamei de uma vez só, detendo-me diante deles. Nem pensava em comprar; com certeza eu não tinha dinheiro o suficiente. Contentava-me com o mero folhear das páginas quando o livreiro anunciou: "Pra você sai por um real cada um." Voltei-me para o vendedor, ainda lembro da minha surpresa. Contive-me, temendo que o homem pudesse aumentar o preço ao perceber-me alegre demais com a oferta. Em um movimento nervoso, rápido, saquei do dinheiro - e lá se ia meu almoço - e troquei as duas notas de papel velho pelos dois livros que me haviam chamado. Lembro bem de que os apertei contra o peito e fugi de perto do vendedor. Eram meus!
Não podia esperar mais para iniciar a leitura; e tamanha era minha aflição, que tratei de procurar, em pleno centro da cidade, um lugar próprio para isso. A idéia veio como um sopro - talvez os livros tenham me sussurrado aos ouvidos. Lancei os olhos para cima, vi a escadaria e subi para o convento de Santo Antônio. Lá no alto, no pátio frente à igreja, sentada sobre a mureta, e observando o movimento dos livreiros e compradores na praça lá embaixo, comecei Quo Vadis. Iniciou-se aí uma longa tradição: a de ler, cismar e chorar na murada do pátio do Convento de Santo Antônio. Não existe lugar melhor para isso!
Depois deste nosso primeiro entendimento, ouvi outros livros, muitas vezes mais, ainda sem a certeza de que eles realmente me conheciam e buscavam. Pois foi em um sebo, desorganizado e empoeirado, um dos muitos pelas imediações da Praça Tiradentes, que tive a certeza de que eles se comunicavam comigo. Eu já estava no sebo há horas. Já havia folheado livros, revistas, quadrinhos. Já havia sentado-me no chão e assoprado muita poeira à minha volta. Depois de pagar pelo livro que decidira levar - não me lembro mais qual - e já descendo o degrauzinho para a calçada, ouvi meu nome. Não era apenas um sussurro, era bem claro. Voltei-me depressa. Dois passinhos pra trás, virei à direita, abaixei-me. A estante velha, descascada e sem cor junto ao chão, não tinha nada de interessante. Eram livros escolares antigos. O mal dos livros escolares é que perdem a validade. Não são livros em toda a amplitude do termo: livro livro está sempre vivo!
Não pensei duas vezes. A voz do livro me chamava e eu sabia exatamente de onde vinha. Afastei um livro de física e um outro de matemática, como se conhecesse o caminho. Ali estava ele, atrás dos dois volumes grossos, escondido e abandonado por algum motivo qualquer. Distração do livreiro, desorganização, acidente? Nada disso... esperava-me; só isso. Isso tudo!
Desde então, tenho sempre a certeza de ser amada também. Nunca me preocupo em encontrar um livro. Sei que quando for a hora, serei encontrada por ele. Eles sempre sabem onde estou e como fazer para me achar. Também sabem que, a um chamado, correrei a atendê-los, como boa amante que sou. Livros... São sábios, amigos, meigos, surpreendentes. Nunca aparecem em meu caminho antes da hora, nem somem antes do tempo certo. Amigo, namorado, amante...Todos os espaços estão ocupados por um Livro.
Livro, livros... E aqui o singular se confunde com o plural. Um livro carrega em si todos os livros do mundo, e todos os livros do mundo são um livro só. Quando se está lendo um, toda a literatura está contida ali, naquele que te alimenta e acompanha. Livros são sempre diferentes, mas o amor que oferecem é sempre constante, estável e ardente.
E está aí a Bienal Internacional do Livro. Quase no fim, esperando por mim. Sei que tem um livro ali me chamando, posso ouvi-lo daqui. Aflito, suspenso pelo medo de que eu não o ouça ou não o possa buscar; embora ele já saiba que irei. A Bienal, para mim, é menos interessante que os sebos, por trazer apenas livros novos - eu e minha queda pelos mais maduros - muitos lançamentos, todos carentes de atenção. Mas é fascinante andar por corredores, corredores e corredores repletos de livros, ouvidos atentos, para não perder a direção da voz que me chama. Ele está lá, atrás de algum volume, no alto de alguma prateleira, talvez escondido em um armário. Não importa, nos encontraremos, eu o trarei comigo para casa. Eu sempre atendo ao chamado dos livros, e eles sempre me atendem.
E a cada novo encontro, compreendemos e comemoramos o tamanho do nosso amor.
***

quinta-feira, 19 de maio de 2005

Exposição de Trabalhinhos

Como já estava combinado, começamos hj a exposição dos trabalhos de fim de semestre q os queridos leitores/alunos tão prontamente enviaram. Vai pela ordem em q chegaram no escaninho, então o do Jodok é o primeiro. Vcs leiam com atenção, por favor, e digam o q acharam, tá bom assim? Não pode aproveitar pra chatear o coleguinha, viu menino q senta atrás do Jodok e menino q senta na frente do Alex?! Depois é só aguardar pelo boletim... Só pra esclarecer: o texto q Jodok enviou é um conto de Peter Bichsel, q ele traduziu para nos explicar pq se chama Jodok Jodok. Vejam se esclarece...

***

Jodok manda lembranças

Só conheço o seu nome: Jodok.

Também não conheço outra pessoa com esse nome.

Vovô começava as suas histórias com: "Quando tio Jodok era vivo" ou com "Quando fui visitar o tio Jodok" ou "Quando tio Jodok me deu uma gaitinha de boca". Mas ele nunca contava nada do tio Jodok, apenas do tempo em que Jodok era vivo, da visita a Jodok, do presente de Jodok.

E quando a gente perguntava: "Quem foi tio Jodok?", então ele dizia: "Um homem inteligente".

Se bem que vovó não conhecia nenhum tio assim e meu pai ria muito quando escutava esse nome. E vovô ficava bravo quando papai ria, aí vovó dizia: "Sim, sim, o Jodok" e vovô ficava satisfeito. Por muito tempo eu imaginei que tio Jodok tinha sido guarda florestal, porque um dia comentei com vovô que eu queria ser guarda florestal e ele disse: "Tio Jodok iria gostar muito." Mas quando eu quis ser maquinista ele disse o mesmo e também quando eu não quis ser nada.

Vovô sempre dizia: "Tio Jodok iria gostar muito". Mas vovô era um mentiroso. Eu gostava dele, mas em sua longa vida ele tinha se tornado um mentiroso. Muitas vezes ele ia até o telefone, levantava o fone, discava um número e dizia: "Bom dia, tio Jodok, como vai, tio Jodok, não, tio Jodok, claro, com certeza, tio Jodok.", e todos nós sabíamos que ele só fingia e ficava segurando o gancho com a outra mão.

Vovó também sabia, mas mesmo assim reclamava: "Pára de telefonar, isso fica muito caro". E vovô dizia: "Tenho que desligar agora, tio Jodok" e voltava dizendo: "Jodok manda lembranças". Só que ele sempre sempre tinha dito: "Quando tio Jodok era vivo", e agora ele já dizia: "Temos que visitar o tio Jodok uma hora dessas". Ou dizia: "Tio Jodok vem nos visitar com certeza", e ao mesmo tempo batia a mão sobre o joelho, mas isso não ficava muito convincente, ele percebia e ficava quieto, então deixava seu Jodok de lado por algum tempo.

E nós respirávamos, aliviados. Mas então ele recomeçava: Jodok telefonou. Jodok sempre disse. Jodok é da mesma opinião. O chapéu daquele homem é igual ao do tio Jodok. Tio Jodok gosta de passear. Tio Jodok agüenta qualquer frio. Tio Jodok gosta de animais tio Jodok passeia com eles em qualquer frio tio Jodok com os animais passeia tio Jodok agüenta qualquer frio agüenta tio Jodok. O T-i-o J-o-d-o-k.

Quando nós, seus netos, o visitávamos, ele não perguntava: "Quanto é duas vezes sete", ou "Qual é a capital da Argentina", mas sim: "Como se escreve Jodok?" Jodok se escreve com um J longo e sem ck, e o mais terrível em Jodok eram os dois Os. A gente não agüentava mais ouví-los, no quarto de vovô, os Os de Joodook.

E vovô amava os Os de Jooodoook e dizia: Tio Jodok cozinha bons feijões. Tio Jodok louva o pólo norte. Com o passar do tempo, ficou tão terrível que ele dizia tudo com O: Tio Jodok voi nos vosotor, olo ó om homom ontologonto, vomos vosotor o tio omonhõ. TioJodok voi nosvosotor, oloó omhomom ontologonto, vomos vosotor o tioomonhõ.

As pessoas foram ficando com medo do vovô, e ele até começou a afirmar que ele não conhecia nenhum Jodok, nunca tinha conhecido. Que nós tínhamos começado com aquilo. Que nós tínhamos perguntado: "Quem é tio Jodok?" Não adiantava brigar com ele. Para ele não existia mais nada além de Jodok. Ele já dizia para o carteiro: "Bom dia, Sr. Jodok", depois me chamou de Jodok e depois a todo mundo. Jodok era a sua palavra de carinho: "Meu querido Jodok", sua forma de xingamento: "Filho de um Jodok" e sua maneira de praguejar: "Pro Jodok que te carregue". Ele não dizia mais: "Eu tenho fome", ele dizia "Eu tenho Jodok", e nem dizia mais "eu", aí ficava: "Jodok tem Jodok". Ele pegou o jornal, abriu a página "Jodok Jodok - crimes e desastres" e leu em voz alta: "Na Jodok passada aconteceu na Jodok perto de Jodok um Jodok, que causou duas Jodoks. Um Jodok ia pela Jodok para Jodok. Algum Jodok depois aconteceu na Jodok para Jodok um Jodok com um Jodok. Jodok Jodok e seu Jodok, Jodok Jodok, foram socorridos por um Jodok mas chegaram mortos ao Jodok."

Vovó tampou os ouvidos e gritou: "Eu não posso mais ouvir isso, eu não agüento mais". Mas vovô não parou. Não parou durante toda a sua vida, e vovô ficou muito velho e eu gostava muito dele. E mesmo que no final ele não dissesse mais nada além de Jodok, nós dois sempre nos entendíamos muito bem. Eu era muito pequeno e vovô muito velho, ele me pegava no colo e "jodokava a Jodok do Jodok Jodok" quer dizer:"Ele me contava a história do tio Jodok", eu adorava essa história e todos que eram mais velhos que eu, mas mais novos que vovô não entendiam nada e não queriam que ele me pegasse no colo e quando ele morreu eu chorei muito.

Eu disse para todos os parentes que em vez de Friedrich Glausner deveriam escrever Jodok Jodok, vovô teria desejado assim. Não me deram ouvidos, por mais que eu chorasse.

Mas infelizmente, infelizmente essa história não é verdadeira, e infelizmente meu avô não era nenhum mentiroso, e ele infelizmente não ficou muito velho. Eu ainda era muito pequeno, quando ele morreu, e só me lembro que ele um dia disse: "Quando tio Jodok ainda era vivo", e minha avó, da qual eu não gostava muito, foi bem rude e gritou: "Pára com esse teu Jodok!" e aí vovô ficou muito quieto e triste e pediu desculpas. Eu fiquei com muita raiva - foi a primeira que ainda consigo lembrar - e gritei: "Se eu tivesse um tio Jodok eu não falaria de outra coisa!"

E se vovô tivesse feito isso talvez ele tivesse vivido mais e eu ainda teria um avô e nós nos entenderíamos bem.

quarta-feira, 18 de maio de 2005


Entre as muitas maluquices da professora, está nunca deixar datas passarem em branco. E já temos um mês de comentários do sempre presente Anônimo (podem verificar no post quase suicida da professora), o que não pode passar sem uma homenagem
Eis aí: template novinho em folha, devidamente decorado, cheio de tre-lé-lés... Vai ficar muito melhor depois que eu tiver mais tempo para alterar algumas coisas e inserir outras. Quem sabe no fim de semana? Atenção: Comentários agora só na Agendinha. (que por misteriosos motivos técnicos, está grudadinha na data do post anterior. Mais tarde, tudo será resolvido! Chamarei o zelador!)
Se houver mais tempo, posto algo mais interessante ainda esta semana. Senão, ficamos apenas com a comemoração. Parabéns ao Anônimo, que recebe no boletim um 10 bem bonito, por participação em aula e assiduidade.
E parabéns à professora, que está desvendando o estranho mundo do HTML. Nem ela acredita!!!

sábado, 14 de maio de 2005


E desce a cortina escura e aveludada sobre o palco do céu.

Quem perfurou toda a cortina
para que o dia pudesse nos observar lá de trás?

*
**

Estava aqui pensando, como costumo fazer. Meu Pensar passa por evoluções, revoluções e até involuções de difícil compreensão. Comecei pensando apenas com meus botões até notar que poucas das minhas roupas têm botões. "Que coisa lamentável", pensei (de novo). "Então estou sempre pensando sozinha?" "E se é meu Pensar quem mais fala, e ele pensa e fala sozinho, toda a minha vida tem sido um patético monólogo! Tudo bem..."pensei, depois de pensar um pouco mais. Estava apenas pensando comigo mesma, o que não é pouca coisa. Tenho sido, há mais de 20 anos, minha mais fiel companhia... Ainda que não seja a melhor, aprendi neste tempo a conviver quase pacificamente com ela. (Ela? Ela quem? Ah, sim... Ela!)
Isso não acontece sempre assim. Penso de maneiras estranhas. Pergunto-me se é assim, neste mesmo correr alucinado que pensam todas as pessoas. Como é que meus sempre presentes leitores costumam pensar?
Dia desses peguei meu Pensar pensando sozinho, sem sequer dividir suas palavras comigo. Aborrecida com o tal pensamento rebelde, percebi que - talvez para desculpar-se - ele pôs-se a conversar com um personagem de literatura. Foi quando me dei conta que ele faz isso desde que comecei a ler: sempre conversou com meus personagens preferidos - e às vezes, com os mais odiados também. Com o passar do tempo, começaram a acontecer revoluções no bate-papo do meu pensar. Vez ou outra, me descobri conversando com amigos que não vejo há muito tempo. Meu Pensamento já montou diálogos bobos, românticos e até brigas. Com interlocutores de diferentes espécies: amigos, inimigos, meros conhecidos e muitos, muitos personagens. Foi num diálogo desses, com um interlocutor dessa última categoria, que conquistei meu primeiro namorado, um personagem do qual, ainda hoje sinto saudades...
De um tempo para cá, meus interlocutores têm sido sempre de uma mesma espécie, muito evoluida: amigos virtuais que, muitas vezes, sequer sabem que existo. Meu Pensamento é capaz de interessar-se por um outro Pensamento no Orkut, para pouco depois manter altos papos com o recém-conhecido. O pior, é que, na maioria das vezes, os pensamentos - o meu e o do desconhecido - são capazes de discutir e quase brigar! Já disse ao meu Pensamento que isso não é muito civilizado, mas ele parece não querer entender...
O mais intrigante: ao contrário do que poderia parecer, meus interlocutores não são pura e simplesmente criação do meu Pensamento. Eles têm maneiras, gestos, opiniões e falares próprios. Não tenho o menor domínio sobre o que pensam ou falam meus interlocutores de pensar. Às vezes, surpreendem-me com idéias que nunca haviam passado aqui, de outras, falam coisas que chegam a deixar-me envergonhada... "Psiu, Pensamento!" sussurro para que somente ele me ouça. "Vá falar este tipo de coisa em sua própria casa, aqui não!"
E nesse pensar maluco, cheguei à conclusão de que meu Pensamento sabe virar-se bem, mesmo sem botões. (Que conclusão grandiosa!) Sim, é uma relação estranha, essa minha entre meu Pensamento e os alheios. Nem sei o que pensar dela...

quarta-feira, 11 de maio de 2005


Em casa, apoiada na janela apenas para fugir das obrigações acumuladas durante o dia, pressentiu a sombra de seu chapéu - muito embora ele jamais houvesse usado um chapéu. Assim sentiu, mas não tentou sequer seguir a sombra com o olhar. Apenas permaneceu à janela, pensando se seria melhor assim. Afinal, perseguir sombras pode ser, às vezes, tudo o que é possível fazer!

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Não demorou muito até que a sentisse mais uma vez. Aquela sombra insistente que, enquanto buscada no parque pela moça, fizera questão de não passar. Agora que a lembrança do parque escorria pelos dedos nebulosos do tempo, a sombra do chapéu que ele não usava insistia em persegui-la. Passava de lá para cá sob a janela, ou ao menos ela pensava sentir a sombra passando. E pensava também ser a causa daquele passar insistente. Podia ser ou não, desde q ela acreditasse ser. Acreditando, fazia com que realmente assim fosse, embora o moço mal soubesse disso. E ele? Passava, realmente. Talvez a caminho da padaria... Ela não sabia para onde ele ia. E a ignorância da realidade desenhava um melancólico sorriso no rosto da jovem, que retirou uma pétala lilás de dentre as páginas do livro... Ele passava afinal, e era bom, e era tudo o que importava... Embora já nem fizesse diferença... Ou fazia?!

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Professora Maluquinha - no momento Sapatinho de Cristal - deseja a todos os seus fidelíssimos leitores uma boa madrugada. E até amanhã!

domingo, 8 de maio de 2005

O relógio ali na sala
tique-taqueando avisa:
"Passa o tempo, passa a vida,
só meu cantar se eterniza."

quinta-feira, 5 de maio de 2005


Dia desses, começamos a ensaiar a musiquinha de dia das mães, para a apresentação amanhã. Não sei quem trouxe o CD, mas a música é de alguma cantora evangélica e a melodia é lenta, lenta... Às vezes me lembra algumas trilhas sonoras de desenhos Disney... Provocam arrepio por motivo nenhum, talvez apenas pela voz gelada que alcança as últimas notas da escala musical. Já não estava gostando da música - q será mantida, queira eu ou não - quando percebi uma aluna com os olhinhos cheios de lágrimas. Joyce é pequenininha, bem miúda mesmo, apesar de já ter sete anos. Super calma, ótima aluna, e etc e etc... Acabo de descobrir nela ou uma sensibilidade fora do comum ou algum problema familiar. Não quis ensaiar a música, preferiu apenas fazer um desenho. Hoje mudou de idéia, me disse que gostaria, sim, de cantar para a mãe. Ensaiou, firme e forte, as lágrimazinhas escorrendo pelo rostinho... (tudo tão inhozinho!)

Voltando para casa da faculdade, entro num ônibus super diferente. O q difere não é o carro, nem os bancos, a roleta ou qualquer outra coisa parecida, e sim, a atmosfera respirada lá dentro... Havia um circo armado dentro do ônibus!!! Um homem caracterizado apenas por um nariz vermelho alegrava o pessoal. Contou piadas, apelidou todos os passageiros com nomes de artistas famosos, cantou parabéns para o trocador, fez com que os passageiros cantassem "Atirei o pau no gato" em uníssono... De vez em qd gritava: "Luzes, produção!!!" E o motorista, solícito, piscava as luzes do ônibus. Divertidíssimo! O homem chegou a encenar que encenava Romeu e Julieta com uma passageira mais desinibida... Hilariante! A vida precisa mesmo de algo que a faça gargalhar ao fim do dia, para que esteja pronta para recomeçar o dia seguinte. Pensei logo na Cigarra, que cantava enquanto as Formigas trabalhavam. Na fábula original, a Cigarra "dança"; mas eu sempre acreditei q a eficiência das Formigas se devia, antes de mais nada, ao canto da Cigarra. A profissão de Cigarra do ônibus deveria ser mais difundida. E andar de ônibus no fim do dia seria um pouco menos desgastante. Seria bom, até. Quem sabe? Palmas para ele, o alegre comediante do ônibus das 21:15hs!!!

Queria pegar um livro do Quintana emprestado na biblioteca, mas ainda não renovei minha carteirinha... Ai, ai, agora só semana q vem. Queria tanto ler Quintana no final de semana! E ter uma boa desculpa pra não fazer os deveres de inglês... Tinha q ler "Morte em Veneza" tbm...

Ei, descobri o segredo: Não almoçarás antes de dar aula... deveria ser mandamento - e já é - pelo menos na minha cartilha. A diferença entre dar uma aula de barriga cheia ou vazia é q funciono muito mais rápido qdo estou com fome. E sem sono... Perguntas que não devem ser feitas: Pq sempre que planejo uma aula legal falta metade da turma? Pq os alunos aparecem e desaparecem como se participassem de um show de mágicas? Como um aluno q só surge (magicamente) duas vezes em 10 aulas pretende aprender alemão?! Hm, deixa pra lá, vai q um aluno me lê... Nunca se sabe...

Esqueci de fazer a redação de alemão, tvz nem dê tempo amanhã. Seria bom q desse. Ouvi dizer q o blogger ficará em recesso durante o final de semana. Que poxa... Descobri q tomar café na Saraiva é muuuuito bom. E que versos são palavras penduradas no varal, à espera de serem recolhidos. Comer chocolate lendo estraga o livro mas apura o sabor - do chocolate e da leitura. Tanta coisa pra se dizer, tão pouco tempo para se ordenar pensamentos... Pensamentos desordenados esses meus. Como eu.

Pensando, me vi pensando em como, afinal, as pessoas pensam... Sei lá, será possível que todos pensem da mesma forma? Não me refiro aos pensamentos que correm lá por dentro, mas à maneira como eles correm. Pensava isso com meus botões quando percebi que sequer carregava botões. E que portanto, pensava sozinha... Dialogo comigo mesma, mas nunca sou eu quem responde. É outro... Às vezes é vc, caro leitor! Hum... Assunto demasiado extenso para uma noite de quinta feira.

Quintas feiras são dias muito cansativos, durante os quais só me sustento em pé pq pressinto a sexta feira. Que por sua vez, anuncia um sábado... E vamos parar por aí antes que chegue outra segunda-feira.

A menina sob o caramanchão não volta mais ao parque. Agora lê debruçada sobre o peitoril da janela de mármore. Tenho muito a falar sobre ela, mas agora bateu um sono... Deixemo-la lá, (lá, lá, lá...) lendo seu livro, despreocupadamente. Ela já chegou a um ponto tal em que, apesar de vê-lo lá no parque, sequer sente curiosidade em saber o q ele faz ali. Será assim, até que mais alguém passe, perguntando o que ela lê. Enquanto isso não acontece, a menina apena vira as páginas, marcando aqui e ali com uma pétala lilás....

Pensamentos desordenados. Muito, muito desordenados...
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Não posso deixar de comentar: fiz questão de postar hj. Por dois motivos:
1. Atendendo a pedidos (Obrigado, obrigado!!!)
2. O dia de hj só se repetirá daqui há mil anos. Quinta-feira, 05/05/05. E meu cachorro faz um ano hj.

Tá, a data pode se repetir daqui a mil anos, o dia não. O dia de hj é único e é meu. Quero prendê-lo nessas linhas virtuais. Embora saiba q ele vai fugir, assim q bater meia-noite - tvz pense ser a Cinderela!
Estou com sono. A Louca ameaça escrever bobagens... tenho medo dela. Boa noite! Volte sempre!