quinta-feira, 19 de maio de 2005

Exposição de Trabalhinhos

Como já estava combinado, começamos hj a exposição dos trabalhos de fim de semestre q os queridos leitores/alunos tão prontamente enviaram. Vai pela ordem em q chegaram no escaninho, então o do Jodok é o primeiro. Vcs leiam com atenção, por favor, e digam o q acharam, tá bom assim? Não pode aproveitar pra chatear o coleguinha, viu menino q senta atrás do Jodok e menino q senta na frente do Alex?! Depois é só aguardar pelo boletim... Só pra esclarecer: o texto q Jodok enviou é um conto de Peter Bichsel, q ele traduziu para nos explicar pq se chama Jodok Jodok. Vejam se esclarece...

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Jodok manda lembranças

Só conheço o seu nome: Jodok.

Também não conheço outra pessoa com esse nome.

Vovô começava as suas histórias com: "Quando tio Jodok era vivo" ou com "Quando fui visitar o tio Jodok" ou "Quando tio Jodok me deu uma gaitinha de boca". Mas ele nunca contava nada do tio Jodok, apenas do tempo em que Jodok era vivo, da visita a Jodok, do presente de Jodok.

E quando a gente perguntava: "Quem foi tio Jodok?", então ele dizia: "Um homem inteligente".

Se bem que vovó não conhecia nenhum tio assim e meu pai ria muito quando escutava esse nome. E vovô ficava bravo quando papai ria, aí vovó dizia: "Sim, sim, o Jodok" e vovô ficava satisfeito. Por muito tempo eu imaginei que tio Jodok tinha sido guarda florestal, porque um dia comentei com vovô que eu queria ser guarda florestal e ele disse: "Tio Jodok iria gostar muito." Mas quando eu quis ser maquinista ele disse o mesmo e também quando eu não quis ser nada.

Vovô sempre dizia: "Tio Jodok iria gostar muito". Mas vovô era um mentiroso. Eu gostava dele, mas em sua longa vida ele tinha se tornado um mentiroso. Muitas vezes ele ia até o telefone, levantava o fone, discava um número e dizia: "Bom dia, tio Jodok, como vai, tio Jodok, não, tio Jodok, claro, com certeza, tio Jodok.", e todos nós sabíamos que ele só fingia e ficava segurando o gancho com a outra mão.

Vovó também sabia, mas mesmo assim reclamava: "Pára de telefonar, isso fica muito caro". E vovô dizia: "Tenho que desligar agora, tio Jodok" e voltava dizendo: "Jodok manda lembranças". Só que ele sempre sempre tinha dito: "Quando tio Jodok era vivo", e agora ele já dizia: "Temos que visitar o tio Jodok uma hora dessas". Ou dizia: "Tio Jodok vem nos visitar com certeza", e ao mesmo tempo batia a mão sobre o joelho, mas isso não ficava muito convincente, ele percebia e ficava quieto, então deixava seu Jodok de lado por algum tempo.

E nós respirávamos, aliviados. Mas então ele recomeçava: Jodok telefonou. Jodok sempre disse. Jodok é da mesma opinião. O chapéu daquele homem é igual ao do tio Jodok. Tio Jodok gosta de passear. Tio Jodok agüenta qualquer frio. Tio Jodok gosta de animais tio Jodok passeia com eles em qualquer frio tio Jodok com os animais passeia tio Jodok agüenta qualquer frio agüenta tio Jodok. O T-i-o J-o-d-o-k.

Quando nós, seus netos, o visitávamos, ele não perguntava: "Quanto é duas vezes sete", ou "Qual é a capital da Argentina", mas sim: "Como se escreve Jodok?" Jodok se escreve com um J longo e sem ck, e o mais terrível em Jodok eram os dois Os. A gente não agüentava mais ouví-los, no quarto de vovô, os Os de Joodook.

E vovô amava os Os de Jooodoook e dizia: Tio Jodok cozinha bons feijões. Tio Jodok louva o pólo norte. Com o passar do tempo, ficou tão terrível que ele dizia tudo com O: Tio Jodok voi nos vosotor, olo ó om homom ontologonto, vomos vosotor o tio omonhõ. TioJodok voi nosvosotor, oloó omhomom ontologonto, vomos vosotor o tioomonhõ.

As pessoas foram ficando com medo do vovô, e ele até começou a afirmar que ele não conhecia nenhum Jodok, nunca tinha conhecido. Que nós tínhamos começado com aquilo. Que nós tínhamos perguntado: "Quem é tio Jodok?" Não adiantava brigar com ele. Para ele não existia mais nada além de Jodok. Ele já dizia para o carteiro: "Bom dia, Sr. Jodok", depois me chamou de Jodok e depois a todo mundo. Jodok era a sua palavra de carinho: "Meu querido Jodok", sua forma de xingamento: "Filho de um Jodok" e sua maneira de praguejar: "Pro Jodok que te carregue". Ele não dizia mais: "Eu tenho fome", ele dizia "Eu tenho Jodok", e nem dizia mais "eu", aí ficava: "Jodok tem Jodok". Ele pegou o jornal, abriu a página "Jodok Jodok - crimes e desastres" e leu em voz alta: "Na Jodok passada aconteceu na Jodok perto de Jodok um Jodok, que causou duas Jodoks. Um Jodok ia pela Jodok para Jodok. Algum Jodok depois aconteceu na Jodok para Jodok um Jodok com um Jodok. Jodok Jodok e seu Jodok, Jodok Jodok, foram socorridos por um Jodok mas chegaram mortos ao Jodok."

Vovó tampou os ouvidos e gritou: "Eu não posso mais ouvir isso, eu não agüento mais". Mas vovô não parou. Não parou durante toda a sua vida, e vovô ficou muito velho e eu gostava muito dele. E mesmo que no final ele não dissesse mais nada além de Jodok, nós dois sempre nos entendíamos muito bem. Eu era muito pequeno e vovô muito velho, ele me pegava no colo e "jodokava a Jodok do Jodok Jodok" quer dizer:"Ele me contava a história do tio Jodok", eu adorava essa história e todos que eram mais velhos que eu, mas mais novos que vovô não entendiam nada e não queriam que ele me pegasse no colo e quando ele morreu eu chorei muito.

Eu disse para todos os parentes que em vez de Friedrich Glausner deveriam escrever Jodok Jodok, vovô teria desejado assim. Não me deram ouvidos, por mais que eu chorasse.

Mas infelizmente, infelizmente essa história não é verdadeira, e infelizmente meu avô não era nenhum mentiroso, e ele infelizmente não ficou muito velho. Eu ainda era muito pequeno, quando ele morreu, e só me lembro que ele um dia disse: "Quando tio Jodok ainda era vivo", e minha avó, da qual eu não gostava muito, foi bem rude e gritou: "Pára com esse teu Jodok!" e aí vovô ficou muito quieto e triste e pediu desculpas. Eu fiquei com muita raiva - foi a primeira que ainda consigo lembrar - e gritei: "Se eu tivesse um tio Jodok eu não falaria de outra coisa!"

E se vovô tivesse feito isso talvez ele tivesse vivido mais e eu ainda teria um avô e nós nos entenderíamos bem.