quarta-feira, 5 de março de 2008

Tabacarias

Para começo da prosa: tenho paixão por tabacarias.

E pouca gente sabe – ou sabia - disso. Gosto de passar pela vitrine, dar uma olhada para dentro, o ambiente clássico e sóbrio, as paredes de madeira escura, as latinhas de tabaco, as miniaturas de carros antigos, os tabuleiros de jogos, os cantis, os canivetes, o perfume amadeirado, e os ares de galanteria de um mundo perdido em antigamentes que só me pertencem no interior das tabacarias.

Não à toa Fernando Pessoa escreveu um longo poema intitulado “Tabacaria”. E embora no poema, Álvaro de Campos puxe um simples cigarro, o assunto que me leva a escrever aqui é bem outro: os cachimbos.

Não fumo, não trago, não pito, mas confesso: a-do-ro um cachimbo! Com quanta classe uma pessoa enche o fornilho do cachimbo! E para minha surpresa, há regras para isso: descobri três regras diferentes com 8 a 10 passos a se seguir, como um artista... Além disso, o odor do tabaco de cachimbo costuma ser suave e gostoso.
Não nego q faça mal, absolutamente. Mas é gostoso! Este mundo, afinal, é cheio de gente que bebe coca-cola (q não é arte, não tem charme, tampouco é gostosa), ciente de q faz mal!

A variedade de tabacos é impressionante: há os adocicados, para início do dia, os que contêm vinho ou rum envelhecido, os com folhas de limão, os aromatizados com champagne, licor de cassis, com chocolate, com baunilha, cereja e até com açúcar queimado!

Outra coisa que me atrai são as qualidades creditadas aos tabacos: o aroma é sempre elegante, encorpado, distinto, denso, equilibrado, suave, atraente, sutil, singular... Ou arredondado! Tal como o vinho, o tabaco coleciona adjetivos que me seduzem facilmente.

E ainda que ñ houvesse tal variedade de atraentes aromas, haveria a enorme variedade dos formatos de cachimbos. São
tantos que chego a ficar indecisa, ao tentar escolher os formatos mais bonitos!

E não é muuuito bonito?!



Quando pequena, assisti diversas vezes ao filme “Heidi”, baseado num livro de literatura infanto-juvenil. O avô da menininha fumava cachimbo e tinha na parede de casa uma coleção deles. A menininha da história presenteia o avô com um belo cachimbo comprado na cidade, presente que sempre me pareceu de muito bom gosto.

Na época, meu avô paterno também tinha o elegante (não necessariamente saudável) hábito de cachimbar. Ele se sentava em uma poltrona gostosa para isso, e fazia bolinhas de fumaças, divertidas de olhar. Hoje em dia meu avô ñ fuma mais, mas guarda uma pequena coleção de cachimbos, que gosto de conferir sempre q o visito. O aroma gostoso permanece no fornilho de cada um deles.

O hábito de cachimbar ñ é, naturalmente, próprio apenas do avô da Heidi ou do meu. Há uma grande lista de homens -e mulheres- inteligentes, sensíveis, muito elegantes e (claro!) cachimbantes. Podemos começar com o venerável Gandalf, o Mago de “O Senhor dos Anéis” e seus amigos hobitts, seguidos por seu criador, Tolkien. Também C.S. Lewis, autor de “As Crônicas de Nárnia” era homem de cachimbos. Da mesma forma, Sir Arthur Conan Doyle ensinou Sherlock Holmes a cachimbar, enquanto desvendava casos. Mark Twain cachimbava e se bem me lembro, o menino Huck Finn tbm dá suas pitadas (embora eu discorde de crianças cachimbando. É um hábito q cai bem apenas para um moleque: o saci-pererê, q cachimba sem classe, mas com graça). Tio Barnabé tbm tem um cachimbo, e gosto de pensar no personagem de Lobato contando histórias em torno da fogueira e desenhando rosquinhas no ar, para as crianças que sorriem à sua volta.

A estes nobres personagens e autores, se junta ilustre galeria: Bach, Manet, Van Gogh, Baudelaire, Hemingway, James Barrie, Graham Bell, Isaac Newton, Einstein, Freud, Neil Armstrong, Darwin, Clark Gable e até a rainha Victoria!

É desnecessário mostrar as diferenças entre o hábito de fumar um simples cigarro e o de cachimbar. O cachimbo pede movimentos suaves e calmos, enquanto o cigarro sugere tensão, movimentos nervosos e cinzas espalhadas pelo chão. É fácil imaginar o cachimbante lendo, escrevendo, jogando xadrez ou mesmo contando uma história, rodeado de amigos ou crianças, em atitude simpática e serena.

O cachimbo, ao contrário do cigarro, ñ se consome, ñ é descartável, ñ é símbolo do nosso mundo imediatista. Não, não... O cachimbo, com suas elegantes curvas, é lembrança de um passado nobre, pitoresco e pacato , quando sentar para produzir bolinhas perfumadas, para simplesmente pensar ou mesmo para contar histórias ainda era importante.
E era!

Buscando os perfumes suavemente amadeirados deste passado, é que entro nas tabacarias.

7 comentários:

Roberto A. Wild disse...

Ainda bem que esse texto não tem nada a ver com cachimbar formigas, senão a Miga teria um troço.

Tenho um cachimbo lá em casa, que não é nem de longe tão vitrinesco como o da foto aí, então vou mandar uma foto dele para que as pessoas saibam como é um cachimbo simples.

Anônimo disse...

Bom , bom .
Gosto de tabacarias sim , de ver o que fica lá dentro . O que me faz ficar muito tempo lá dentro são os chaveiros , canivetes-suíços e carrinhos em miniatura . Destes eu gosto demais . Dos cachimbos , charutos e cia ltda são sou muito admirador , não . Mas se isso agrada a profi , a minha dinda cachimba de vez em quando , assim como sua mãe e seu marido .

Anônimo disse...

Tia , será que existe Tabacaria na terra svólon do a-pontinho?

Roberto A. Wild disse...

Deve ter umas tabakbutiken ou algo parecido :)
(dentro daquela Loĝistiken Imperial)

R. B. Canônico disse...

Demais!

Sou um grande fã de cachimbo. Aliás, de tabaco em geral, apesar de não consumir - isso parece contraditório, mas fazer o que? hahahaha.

O cachimbo é simplesmente elegante. Parece coisa de lordes mesmo - e os preços dele são coisas para lordes, as vezes, hahaha.

Ah, mais um cachimbante: o simpático Pe. Brown, de Chesterton!

Enfim, em tempos politicamente corretos, é bom ler algo equilibrado, sem essa mentalidade de culto ao corpo, de não fazer mal a todo custo etc... que, para ser sincero, é chata!

Ou seja, adorei esse texto!!!!!!

:)

Clarinha disse...

Então deixa eu contar: foi depois de discutir este tema com o Rodolfo e descobrir mais um amante dos cachimbos é q escrevi este texto. :)
Ele tem, aliás, um ótimo texto sobre o tabagismo: http://minhavereda.blogspot.com/2007/12/have-cigar_31.html

R. B. Canônico disse...

Refleti um pouco sobre a questão dos malefícios do tabaco. Mas essa é uma questão curiosa, na verdade. Como vc sabe, Clarinha, por motivos de "força maior" posso ter problemas com determinados tipos de alimentos que, consumidos por pessoas de saúde perfeita, não causariam problema algum. Mas em mim PODEM desencadear um processo inflamatório. Agora, não é por causa dessa POSSIBILIDADE que eu vou viver em uma bolha, comenado apenas soja hehehe. Uma pizza, com seus queijos amarelos - logo, gordurosos - pode me fazer muito mal. Mas comi várias semana passada e estou ótimo aqui. Maionese - condimentos em geral - pode me fazer muito mal. Mas o salgado q comi, semana passada, com um pouco de maionese, caiu muito bem - e estava gostoso. Mesmo o médico avisando que essas coisas podem fazer mal, eu comi um pouco e tudo bem.

E, justamente pela condição em que vivo, eu consigo ter facilidade em compreender pq o tabaco está longe de ser o demônio que pintam por aí. Ele PODE fazer mal, assim como a pizza PODE fazer muito mal para mim. Para a possibilidade avançar e tornar realidade, vai depender do MODO como a pessoa faz esse consumo. Esse é, talvez, o grande ponto da questão, de uma perspectiva "clínica", talvez. Na prática, eu como pizzas simplesmente porque são gostosas. E quem fuma, a mesma coisa: fuma porque gosta.

:)