segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Medo. Tantos.

Sempre gostei de dizer que não tinha medo de nada. E por muito tempo, acreditei nisso, incapaz de reconhecer medos. Mesmo hoje, ao pensar em meus medos de infância, tenho dificuldade para encontrá-los, tão escondidos dentro de mim, tamanho meu medo deles.

Lá longe ouço um medo de abelha, que me persegue zunzunindo durante a vida. Medo de ferroada de abelha, de vespa, de maribondo, medo de ferrão. Também havia o medo terrível dos dias em que meu pai chamava as crianças empunhando a ameaçadora garrafa de óleo de fígado de bacalhau. E penso agora que talvez ele também tivesse medo. Talvez.

Tinha medo de bonecas grandes, medo de que acordassem à noite e não gostassem de mim. Medo de seus dedinhos afiados perto dos lençóis. E medo de cachorro, grande ou pequeno. Medo que latissem perto demais.

Também havia o medo de tirar nota baixa em matemática, e o medo enorme de todos aqueles números que a acompanham ruidosamente. Medo de que a professora gritasse e de passar vergonha. Medo de risadas na sala. Medo de minha mãe chorar por causa da nota baixa, medo de ficar de castigo e medo de precisar estudar mais matemática. Medo de não ganhar presente de Natal.

Depois, medo da morte. Medo de nunca mais ver e de nunca mais sentir. Medo de ficar sem pra sempre. Medo de perder, medo de se perder e de ficar perdida. Sempre tive medo do nunca mais. E medo de pesadelo, medo de sonho repetido repetido e repetido, repetidamente sem fim. Medo de um pra sempre ruim.

E veio o medo de ser diferente dos amigos, medo de ser igual aos amigos e o medo de não ter amigos. Medo de estar sempre sozinha, de fazer tudo errado, medo de ser esquecida. Medo de risos altos. E de risos baixos. Medo de que não gostassem, medo de que gostassem.
Medo do novo. Medo da vida.

E com o tempo, medo de começar e medo de não dar certo. Medo do ponto final, que sempre é ponto e vírgula, mas não parece. E esse medo de não aprender, medo de esquecer, medo de tentar de novo, medo de fazer sempre a mesma coisa. Medo de não ser capaz. E o medo de repetir erros, medo de solidão. Medo de não ser feliz. Medo de não fazer feliz.

Medo de encarar meus medos e tanto medo de não ter coragem para vencer medos descobertos. Tantos medos.
Medo, tanto medo de ter sempre medo deles...
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(Não, não é uma crise. ;) O texto foi escrito para uma disciplina da pós e achei q ficaria bem aqui. Não?)