quinta-feira, 12 de abril de 2007

-Pronome possessivo masculino, primeira pessoa do singular-

Indecisa como sempre fui, nem precisava de tantas opções para quase desistir de escrever qualquer coisa.
Mas o avião que peguei em Madri começou a descer. Acabou, pensei. E não pensei no que escrever...
Acabou e agora estou de volta... Fim! E me recusei a chorar, não por ser corajosa, mas porque o avião estava cheio.
Deixamos o céu muito azul e fomos passando pelo meio das nuvens espessas. Nó na garganta, lembrei dos castelos à beira do Reno, que no caminho para o aeroporto de Frankfurt, me arrancaram tantas lágrimas - é, o trem estava vazio! Tantos castelos que deixei para trás!
Pensei ver entre as nuvens, de relance, flocos de neve, os últimos, que vieram se despedir de mim em Londres. E os museus, e os monumentos e tanta coisa... E pousando, vi minhas montanhas recortando o céu azul e os raios de sol muito fortes batendo na Igreja da Penha - aquela que ainda devo visitar, lembro-me sempre.
E no Largo da Carioca (sim, foi no dia seguinte à chegada, mas que diferença faz?) senti o vento fresco correndo, aliviando nosso calor abafado. Um vento brincalhão, como só nosso vento sabe ser. E subi o morro de Santo Antônio, até o convento, para lá de cima, ver meu Largo -não sou eu, a Carioca? - e ali, logo mais, a Cinelândia. A praça mais linda do mundo, eu sempre afirmei. Num sentimento meio alegria, meio surpresa, parada diante do Municipal, tive a certeza de que, sim, é a mais linda do mundo.
Ri alto e não foi sozinha, nem surpreendi ninguém. Carioca que anda por ali, sabe onde está andando... Como não sorrir, andando pela Cinelândia?
Anotei as datas dos ballets, dos concertos. Nós também temos tantos! Passei rapidamente pela porta do Museu de Belas Artes, agora em fim de reformas. As obras nos prédios da Cinelândia sempre me incomodaram muito. Mas Berlim e Paris pareciam um canteiro de obras, portanto, como reclamar das nossas?
Subi pulando as minhas escadas - aquelas que ficam diante da Biblioteca Nacional - e ali de cima, observei o Pão de Açúcar. E o chafariz diante do Obelisco da Rio Branco, e mais adiante o Passeio Público. Meu parque, meu banquinho, minha história...
Tá, voltar da Europa é muito triste. Mas se existe um local bom para se chegar de volta, com certeza é o Rio.
Os caríssimos leitores devem estar rindo da professora, claro.... Todo mundo sabe que não há lugar como a nossa casa. Mas, acreditem, não é por morar no Rio, não é por ter nascido aqui (e posso, eu mesma, acreditar nisso?), não é por ser minha cidade. Pelo contrário, por ser o que é, fiz meu o Rio, como me apraz fazer com tudo o que gosto muito. É meu. É meu, como tantas ruas da Europa o são agora...
Mas é meu com o Largo do Boticário, os Arcos da Lapa e a Candelária, com a Baía de Guanabara e Ilha de Paquetá. Meu, com pronome possessivo na bela língua portuguesa! É meu com as cores da Aquarela.
Meu.
E viva o Bondinho de Santa Tereza!

----------------------------

Depois dessa escandalosa declaração de amor ao Rio, convido os leitores e alunos a entrarem em contato. O Rio merece, sempre - sem dúvida alguma - muitas visitas! E eu continuo tendo o maior prazer de andar pelas nossas esburacadas, mas carioquíssimas ruas, mostrando e explicando a alegria de ser carioca.