sábado, 18 de agosto de 2007

Encanto

Entre meus textos não publicados aqui, encontrei um que gostei muito de escrever e que ainda gosto de ler - o que não é muito comum.
Quando escrevi, recebeu o título de "Encantada", mas do título, nunca gostei...
Não publiquei na época e talvez agora não seja absolutamente pertinente. Mas aí está...

*
Encantaram-na as sombras, encantara-a o céu, encantara-a o sol, encantara-a os pássaros e o vento, o arco-íris, a chuva; encantada.

Mas nunca houve encanto tão grande como aquele que, então, prostrava-a diante do lago, diante do palácio, sob as estrelas, todas as noites, invariavelmente. Encanto, canto que guardava a um só tempo céu, chuva, arco-íris, sombra, vento, pássaros. Estrelas.

Pertencia-lhe, já.

Talvez por descuido, ao conversarem, deixara embeber-se com as cores de seu olhar. E enfeitiçada, era toda dele, embora ele não pudesse, de forma alguma, saber.

Pertencendo-lhe, queria-o. Não para si – pois deixam de cantar, os pássaros presos – mas próximo de si. Junto a si. Queria-o. Que, ao menos, soubesse o quanto já o amava, não por amar simplesmente, mas por admirar-lhe, como se admira o céu ou as estrelas.

Conta-se que já houve quem se apaixonasse por estrelas, e que, embriagado de amor, lançou-se a um grande lago, onde o reflexo da estrela descansava. Na água agitada, desfizeram-se as estrelas, todas e também aquela, tão amada.

Conta-se também, que o amante da estrela afogou-se, tentando, ainda, alcançá-la.
Senhor! Não permita que também ela, menina, lance-se ao lago. Que exista outra forma de, em mãos, ter uma estrela!