terça-feira, 25 de setembro de 2007

Cintilando

Antes de mais nada, ela sentia saudades. Saudades imensas de um não-sei-quê. Não era saudade de gente, nem de lugar algum. Não era saudade de um tempo passado, nem de um lindo dia de chuva, nem de parques que conhecera.

Não. Algo desconhecido incomodava.

O desconhecido.

Talvez nem mesmo fosse saudade. Passava então toda a noite acordada, sobre o peitoril da janela e não esperava por flores, nem vento, nem ninguém. Apenas contava as estrelas uma a uma e perguntava-se os porquês de tanta saudade.

Durante algumas noites, desenhava estrelas, copiando a exata posição de cada uma, no céu. Em outras, nomeava-as, como a amigas, para em seguida contar a elas seus segredos mais escondidos. Escondidos até de si mesma.

Outras vezes, escrevia. Escrevia obsessivamente sobre estrelas, prometendo-lhes que, em algum momento, conseguiria produzir um texto digno de tanto brilho.

E houve vez em que, erguendo uma prece, pensou dirigir-se aos céus. Mas era com as estrelas que falava.

A mais bela noite, porém, foi aquela em que as estrelas desceram, lentamente. Rumo à sua janela. Uma a uma, postaram-se sob seus olhos, cobriram-lhe o rosto, cintilaram pela face.

E permitiram, enfim, que adormecesse.