terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Desceste das Estrelas

Desceste das Estrelas
de Santo Afonso de Ligório

Desceste das estrelas, Rei celeste,
e à gruta escura e fria tu vieste:
ó divino Pequenino, eu te vejo aqui tremer,
Deus encarnado...
O quanto te custou me haver amado!

Tu, que plasmaste a terra e o céu fizeste,
faltam-te agora, ó Deus, coberta e veste.
Ó querido estremecido, a que extremos queres vir:
esta pobreza
mostra, do teu amor, toda a riqueza.

(tradução de Dom Marcos Barbosa)
***
Esta é uma das minhas canções de Natal prediletas. No original, em italiano, é belíssima!
No youtube, pode ser visto com um coral e num clipe natalino na voz de Pavarotti.
Um feliz e Santo Natal aos amigos de sempre e aos visitantes ocasionais! :)

domingo, 23 de dezembro de 2007

Natal

Natal
Vinícius de Moraes

De repente o sol raiou
E o galo cocoricou:
— Cristo nasceu!
O boi, no campo perdido
Soltou um longo mugido:
— Aonde? Aonde?
Com seu balido tremido
Ligeiro diz o cordeiro:
— Em Belém! Em Belém!
Eis senão quando, num zurro
Se ouve a risada do burro:
— Foi sim que eu estava lá!
E o papagaio que é gira
Pôs-se a falar:
— É mentira!
Os bichos de pena, em bando
Reclamaram protestando.
O pombal todo arrulhava:
— Cruz credo! Cruz credo!
Brava
A arara a gritar começa:
— Mentira! Arara. Ora essa!
— Cristo nasceu! canta o galo.
— Aonde? pergunta o boi.
— Num estábulo! — o cavalo
Contente rincha onde foi.
Bale o cordeiro também:
— Em Belém! Mé! Em Belém!
E os bichos todos pegaram
O papagaio caturra
E de raiva lhe aplicaram
Uma grandíssima surra.

sábado, 22 de dezembro de 2007

Ao Cantar do Galo

Ao cantar do Galo

Dom Marcos Barbosa

(para ser cantado com a música "Au clair de la lune")

Ao clarão da lua
nasce o Menino
vamos adorá-lo,
que é tão pequenino!

Na palha deitado,
vamos encontrá-lo,
pois já se ouve ao longe
o cantar do galo...

Só porque é pequeno,
não o adorarei,
mas vou adorá-lo
porque é nosso Rei.

A Virgem tão bela,
sem nenhum enfeite,
ao que nutre as aves
irá dar seu leite...

Nós, com nossos cantos,
vamos embalá-lo,
pois já morre ao longe
o cantar do galo...

Na terceira missa
vamos proclamá-lo,
pois não mais se escuta
o cantar do galo...

(in "Poemas para Crianças e alguns adultos")

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Cantiga dos Pastores

Cantiga dos Pastores
Adélia Prado

À meia noite no pasto,
guardando nossas vaquinhas,
um grande clarão no céu
guiou-nos a esta lapinha.
Achamos este Menino
entre Maria e José,
um menino tão formoso,
precisa dizer quem é?
Seu nome santo é Jesus,
Filho de Deus muito amado,
em sua caminha de cocho
dormia bem sossegado.
Adoramos o Menino
nascido em tanta pobreza
e lhe oferecemos presentes
de nossa pobre riqueza:
a nossa manta de pele,
o nosso gorro de lã,
nossa faquinha amolada,
o nosso chá de hortelã.
Os anjos cantavam hinos
cheios de vivas e améns.
A alegria era tão grande
e nós cantamos também:
Que noite bonita é esta
em que a vida fica mansa,
em que tudo vira festa
e o mundo inteiro descansa?
Esta é uma noite encantada,
nunca assim aconteceu,
os galos todos saudando:
O Menino Jesus nasceu!

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Canto de Natal

((Vamos ver se funciona: um poema de Natal por dia, até o Natal chegar - ñ q vá ser muita coisa... :P))

Canto de Natal

Manuel Bandeira

O nosso menino
Nasceu em Belém.
Nasceu tão-somente
Para querer bem.

Nasceu sobre as palhas
O nosso menino.
Mas a mãe sabia
Que ele era divino.

Vem para sofrer
A morte na cruz,
O nosso menino.
Seu nome é Jesus.

Por nós ele aceita
O humano destino:
Louvemos a glória
De Jesus menino.

(in "Antologia Poética - Manuel Bandeira", Editora Nova Fronteira )

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

A quem chega

De minha pena não brotarão
versos de rimas raras,
tão próprios de amores perdidos
e das imensas paixões sofridas.

Nem escreverei aventuras heróicas,
epopéia brilhante de atos ousados,
escrita com os mais rebuscados vocábulos
e compreendida por poucos ou ninguém.

Tampouco concebo um drama, daqueles de longos e belos diálogos e intensas estruturas frasais. E cuja jovem heroína morre antes do fim, lamentada por um cavaleiro que, perdido entre os capítulos, demorou até as últimas páginas para chegar.

Não.
Prefiro a coletânea de pequenos contos.
Um seguido de outro, leves, curtos, reais e firmes.
Aos poucos renderão - quem sabe- um romance.

Que fique consagrado em nossa literatura!

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Singelos Pedidos

Entusiasmada com a idéia de fazer uma boa ação neste Natal, adentrei a sede dos Correios. Lá estão reunidas as muitas cartinhas que as crianças enviam para Papai Noel, no fim do ano.

Segundo o que lera no jornal, as cartas costumam ser enviadas por crianças carentes cujos singelos pedidos esperam por nossa boa ação. Adotando uma carta dessas, você se torna uma espécie de ajudante de Papai Noel. Uma alegre idéia, me pareceu...

A expectativa era grande. Uma boneca, uma cesta de chocolates, roupas, talvez um vestido, uma enorme caixa de lápis de cor, toda criança adora lápis de cor; será que posso adotar duas ou três cartnhas?- tudo isso ia matutando, enquanto trazia para perto de mim uma das caixas de cartas.

“Querido Papai Noel, feliz Natal.
Meu nome é L., tenho 7 anos e gostaria muito de ganhar uma bicicleta aro 20, azul do Homem Aranha. Obrigado.”


Ousado, este L., pensei, partindo para outra. Que pedia uma bicicleta rosa com cestinha, da Hello Kitty. E para outra, que pedia um carrinho de controle remoto da Ferrari... Segui na minha busca por uma singela cartinha. Encontrei uma boneca Miracle Baby, patins da Xuxa, lava-jato do Hot Whells, um lap-top do Homem Aranha (ele, novamente!), Barbie Princesa da Ilha, e mais bicicletas e mais lap-tops e bicicletas e lap-tops e sempre assim, a cada carta lida e relida. De singelas, apenas as minhas idéias, antes de entrar nos Correios.

É, Papai Noel está precisando mesmo de muita ajuda!

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Eros e Psique

Tomei hj, mais uma vez, a resolução de voltar a escrever no blog pelo menos uma vez por semana. Ainda que não seja um texto, ainda que o texto não seja meu, ainda que seja apenas um “alô”, para valer a pena manter um blog, afinal.

Estudando para uma prova essa semana, li uma poesia de Fernando Pessoa, da qual gostei muito. Em seguida, encontrei um vídeo no youtube com a mesma poesia. Ilustrada pela professora. =P


Eros e Psique
*
Fernando Pessoa
*
...E assim vêdes, meu Irmão, que as verdades
que vos foram dadas no Grau de Neófito, e
aquelas que vos foram dadas no Grau de Adepto
Menor, são, ainda que opostas, a mesma verdade.
(Do Ritual Do Grau De Mestre Do Átrio
Na Ordem Templária De Portugal)
*
*
*
Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.
*
Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.
*
A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.
*
Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.
*
Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.
*
E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,
*
E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.
***

Para ver o vídeo: http://br.youtube.com/watch?v=ORbyqzaKJKs&feature=related