sexta-feira, 27 de maio de 2005

História que a flor trouxe


Ventava... Folhas e flores despetaladas giravam em pequenos rodamoinhos, enfeitando mais uma tarde triste. A menina, debruçada sobre o peitoril de mármore, lia mais um livro. Acompanhava a história docilmente, deixando que o vento virasse as páginas para ela, numa concentração vagamente desconcentrada. Foi quando uma pétala lilás, enviada por um vento travesso, pousou gentilmente sobre a página que lia.


Neste instante, o livro tornou-se outro, e a moça lia uma história já muito conhecida por ela. Nela, o moço passava pelo parque cumprimentando-a, dia a dia, até esquecê-la. Até não passar mais. Mas ela o esperava sempre, até convencer-se de que ele não vinha mais. A menina deixava o parque, sem rumo, para trancar-se em casa, onde esperava, nunca mais o moço passasse. E ele não passava mesmo, estava escrito assim, no livro. Tudo o que passava era aquela sombra de chapéu nunca usado. Sombra rápida, fugaz, mas uma sombra que fazia ventar e agitava as flores na janela. E provocava o sorriso teimoso e triste. Como já conhecia essa parte da história, a menina apenas passou os olhos sobre os parágrafos seguintes, pulando logo para o novo capítulo. Esperançosa, acreditava finalmente poder ler pouco adiante uma história mais feliz. Surpresa, deparou-se com ele, ali, logo na primeira linha.

Ele, as ondas de seu cabelo, o chapéu que não usava e o sorriso musical que a encantara. Caminhava elegantemente por sua rua, até parar em frente à sua porta. Nos braços fortes, uma braçada de flores em diversos tons de azul, rosa e lilás. O mesmo lilás daquela pétala que o vento lhe trouxera.

Angustiada, a moça perguntou à si mesma dentro do livro porque se demorava na janela, ao invés de correr para a porta. Ao invés de atirar-se naqueles braços. Ao invés de fugir com ele para longe do parque, à procura de um outro parque, onde afinal, tudo poderia ser diferente. Um capítulo onde todos os futuros do pretérito conjugados por ela se tornariam realidade!

domingo, 22 de maio de 2005

Amor Antigo


De todos os meus amores, o mais forte, com certeza, é meu amor pelos livros. Não falo de um amor prosaico ou vulgar, nem de um sentimento figurado, mas de algo real, um amor autêntico, digno de figurar em romances. E se não fosse meu amor pelos livros, certamente não haveria histórias de amor para serem contadas pela Professora.

Minha história com os livros já vem de um longo tempo, provavelmente é anterior à minha alfabetização. Ainda não sabia falar, meu pai já deixava livros espalhados pelo berço. Conta-se que, já nesse tempo, eu os abraçava, beijava, mordia e dormia juntinho, em visível demonstração de amor.
Naquela época, eu não sabia, os livros já haviam me seduzido e conquistado... E para que eu possa prosseguir com essa declaração, é bom que fique claro: falando em amor por livros, não me refiro à Literatura. Sim, amo Literatura, mas meu relacionamento com o livro, o condutor da literatura, é muito mais intenso.
O amor que sinto por eles é fascinante. Primeiramente, por ser o primeiro amor, aquele do qual a gente nunca esquece. Depois, por ser um sentimento sempre em movimento ascendente, isento de fases enfadonhas ou tediosas. E por último, talvez o mais importante: meu amor por livros sempre foi um amor correspondido. Eles me amam tanto quanto - ou até mais, quem sabe? Amor não é sentimento que se possa medir! - eu os amo...
Essa descoberta, fiz já adolescente ou talvez até um pouquinho mais tarde. O cenário da primeira declaração não poderia ser melhor: o centro da Cidade Maravilhosa - outra desvairada paixão. Que eu os amava -aos livros, já sabia. Andava constantemente com um na mochila ou debaixo do braço, sempre coladinho a mim. Livrarias, sebos e bibliotecas já eram, há muito tempo, meu habitat natural. Eu já conhecia o prazer de tocar uma lombada, de assoprar a poeira acumulada e de sentir o odor amarelado de cada uma das velhas páginas. Ou o cheirinho de livro-neném - aquele recém saído da editora, pálido, quase sem graça, implorando por atenção e pelo contato dos dedos do leitor. Mas em sua fragilidade de livro jovem, sempre cheio de charme pra mim... Eu já sabia o tamanho da minha paixão.
O que eu não sabia, era que também os livros sentiam o mesmo por mim. E o quanto, e a quanto tempo, eles vinham tentando manifestar seu carinho, sem que eu fosse capaz de perceber. Pois foi em minha primeira visita à feira de livros que ocorre regularmente no Largo da Carioca, que fui capaz, afinal, de compreender a manifestação amorosa deles. Eu passeava pela feira despretensiosamente, quase sem pensar. Apenas observava os livros pousados nas barracas e os valores baixos das promoções. Não via nada que me chamasse à atenção, ou ao menos que fosse interessante e barato a um só tempo, como convinha às minhas posses de estudante-do-ensino-médio-com-dinheiro-contado-para-o-ônibus.
Foi quando eles me chamaram. E quando eu os ouvi. Nessa primeira vez, tive apenas a leve impressão de ter escutado meu nome. Olhei à minha volta, e ali estavam eles; os dois belos volumes de "Quo Vadis", em encadernação vermelha e dourada. Quo Vadis, quo vadis?! Perguntei-me e exclamei de uma vez só, detendo-me diante deles. Nem pensava em comprar; com certeza eu não tinha dinheiro o suficiente. Contentava-me com o mero folhear das páginas quando o livreiro anunciou: "Pra você sai por um real cada um." Voltei-me para o vendedor, ainda lembro da minha surpresa. Contive-me, temendo que o homem pudesse aumentar o preço ao perceber-me alegre demais com a oferta. Em um movimento nervoso, rápido, saquei do dinheiro - e lá se ia meu almoço - e troquei as duas notas de papel velho pelos dois livros que me haviam chamado. Lembro bem de que os apertei contra o peito e fugi de perto do vendedor. Eram meus!
Não podia esperar mais para iniciar a leitura; e tamanha era minha aflição, que tratei de procurar, em pleno centro da cidade, um lugar próprio para isso. A idéia veio como um sopro - talvez os livros tenham me sussurrado aos ouvidos. Lancei os olhos para cima, vi a escadaria e subi para o convento de Santo Antônio. Lá no alto, no pátio frente à igreja, sentada sobre a mureta, e observando o movimento dos livreiros e compradores na praça lá embaixo, comecei Quo Vadis. Iniciou-se aí uma longa tradição: a de ler, cismar e chorar na murada do pátio do Convento de Santo Antônio. Não existe lugar melhor para isso!
Depois deste nosso primeiro entendimento, ouvi outros livros, muitas vezes mais, ainda sem a certeza de que eles realmente me conheciam e buscavam. Pois foi em um sebo, desorganizado e empoeirado, um dos muitos pelas imediações da Praça Tiradentes, que tive a certeza de que eles se comunicavam comigo. Eu já estava no sebo há horas. Já havia folheado livros, revistas, quadrinhos. Já havia sentado-me no chão e assoprado muita poeira à minha volta. Depois de pagar pelo livro que decidira levar - não me lembro mais qual - e já descendo o degrauzinho para a calçada, ouvi meu nome. Não era apenas um sussurro, era bem claro. Voltei-me depressa. Dois passinhos pra trás, virei à direita, abaixei-me. A estante velha, descascada e sem cor junto ao chão, não tinha nada de interessante. Eram livros escolares antigos. O mal dos livros escolares é que perdem a validade. Não são livros em toda a amplitude do termo: livro livro está sempre vivo!
Não pensei duas vezes. A voz do livro me chamava e eu sabia exatamente de onde vinha. Afastei um livro de física e um outro de matemática, como se conhecesse o caminho. Ali estava ele, atrás dos dois volumes grossos, escondido e abandonado por algum motivo qualquer. Distração do livreiro, desorganização, acidente? Nada disso... esperava-me; só isso. Isso tudo!
Desde então, tenho sempre a certeza de ser amada também. Nunca me preocupo em encontrar um livro. Sei que quando for a hora, serei encontrada por ele. Eles sempre sabem onde estou e como fazer para me achar. Também sabem que, a um chamado, correrei a atendê-los, como boa amante que sou. Livros... São sábios, amigos, meigos, surpreendentes. Nunca aparecem em meu caminho antes da hora, nem somem antes do tempo certo. Amigo, namorado, amante...Todos os espaços estão ocupados por um Livro.
Livro, livros... E aqui o singular se confunde com o plural. Um livro carrega em si todos os livros do mundo, e todos os livros do mundo são um livro só. Quando se está lendo um, toda a literatura está contida ali, naquele que te alimenta e acompanha. Livros são sempre diferentes, mas o amor que oferecem é sempre constante, estável e ardente.
E está aí a Bienal Internacional do Livro. Quase no fim, esperando por mim. Sei que tem um livro ali me chamando, posso ouvi-lo daqui. Aflito, suspenso pelo medo de que eu não o ouça ou não o possa buscar; embora ele já saiba que irei. A Bienal, para mim, é menos interessante que os sebos, por trazer apenas livros novos - eu e minha queda pelos mais maduros - muitos lançamentos, todos carentes de atenção. Mas é fascinante andar por corredores, corredores e corredores repletos de livros, ouvidos atentos, para não perder a direção da voz que me chama. Ele está lá, atrás de algum volume, no alto de alguma prateleira, talvez escondido em um armário. Não importa, nos encontraremos, eu o trarei comigo para casa. Eu sempre atendo ao chamado dos livros, e eles sempre me atendem.
E a cada novo encontro, compreendemos e comemoramos o tamanho do nosso amor.
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quinta-feira, 19 de maio de 2005

Exposição de Trabalhinhos

Como já estava combinado, começamos hj a exposição dos trabalhos de fim de semestre q os queridos leitores/alunos tão prontamente enviaram. Vai pela ordem em q chegaram no escaninho, então o do Jodok é o primeiro. Vcs leiam com atenção, por favor, e digam o q acharam, tá bom assim? Não pode aproveitar pra chatear o coleguinha, viu menino q senta atrás do Jodok e menino q senta na frente do Alex?! Depois é só aguardar pelo boletim... Só pra esclarecer: o texto q Jodok enviou é um conto de Peter Bichsel, q ele traduziu para nos explicar pq se chama Jodok Jodok. Vejam se esclarece...

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Jodok manda lembranças

Só conheço o seu nome: Jodok.

Também não conheço outra pessoa com esse nome.

Vovô começava as suas histórias com: "Quando tio Jodok era vivo" ou com "Quando fui visitar o tio Jodok" ou "Quando tio Jodok me deu uma gaitinha de boca". Mas ele nunca contava nada do tio Jodok, apenas do tempo em que Jodok era vivo, da visita a Jodok, do presente de Jodok.

E quando a gente perguntava: "Quem foi tio Jodok?", então ele dizia: "Um homem inteligente".

Se bem que vovó não conhecia nenhum tio assim e meu pai ria muito quando escutava esse nome. E vovô ficava bravo quando papai ria, aí vovó dizia: "Sim, sim, o Jodok" e vovô ficava satisfeito. Por muito tempo eu imaginei que tio Jodok tinha sido guarda florestal, porque um dia comentei com vovô que eu queria ser guarda florestal e ele disse: "Tio Jodok iria gostar muito." Mas quando eu quis ser maquinista ele disse o mesmo e também quando eu não quis ser nada.

Vovô sempre dizia: "Tio Jodok iria gostar muito". Mas vovô era um mentiroso. Eu gostava dele, mas em sua longa vida ele tinha se tornado um mentiroso. Muitas vezes ele ia até o telefone, levantava o fone, discava um número e dizia: "Bom dia, tio Jodok, como vai, tio Jodok, não, tio Jodok, claro, com certeza, tio Jodok.", e todos nós sabíamos que ele só fingia e ficava segurando o gancho com a outra mão.

Vovó também sabia, mas mesmo assim reclamava: "Pára de telefonar, isso fica muito caro". E vovô dizia: "Tenho que desligar agora, tio Jodok" e voltava dizendo: "Jodok manda lembranças". Só que ele sempre sempre tinha dito: "Quando tio Jodok era vivo", e agora ele já dizia: "Temos que visitar o tio Jodok uma hora dessas". Ou dizia: "Tio Jodok vem nos visitar com certeza", e ao mesmo tempo batia a mão sobre o joelho, mas isso não ficava muito convincente, ele percebia e ficava quieto, então deixava seu Jodok de lado por algum tempo.

E nós respirávamos, aliviados. Mas então ele recomeçava: Jodok telefonou. Jodok sempre disse. Jodok é da mesma opinião. O chapéu daquele homem é igual ao do tio Jodok. Tio Jodok gosta de passear. Tio Jodok agüenta qualquer frio. Tio Jodok gosta de animais tio Jodok passeia com eles em qualquer frio tio Jodok com os animais passeia tio Jodok agüenta qualquer frio agüenta tio Jodok. O T-i-o J-o-d-o-k.

Quando nós, seus netos, o visitávamos, ele não perguntava: "Quanto é duas vezes sete", ou "Qual é a capital da Argentina", mas sim: "Como se escreve Jodok?" Jodok se escreve com um J longo e sem ck, e o mais terrível em Jodok eram os dois Os. A gente não agüentava mais ouví-los, no quarto de vovô, os Os de Joodook.

E vovô amava os Os de Jooodoook e dizia: Tio Jodok cozinha bons feijões. Tio Jodok louva o pólo norte. Com o passar do tempo, ficou tão terrível que ele dizia tudo com O: Tio Jodok voi nos vosotor, olo ó om homom ontologonto, vomos vosotor o tio omonhõ. TioJodok voi nosvosotor, oloó omhomom ontologonto, vomos vosotor o tioomonhõ.

As pessoas foram ficando com medo do vovô, e ele até começou a afirmar que ele não conhecia nenhum Jodok, nunca tinha conhecido. Que nós tínhamos começado com aquilo. Que nós tínhamos perguntado: "Quem é tio Jodok?" Não adiantava brigar com ele. Para ele não existia mais nada além de Jodok. Ele já dizia para o carteiro: "Bom dia, Sr. Jodok", depois me chamou de Jodok e depois a todo mundo. Jodok era a sua palavra de carinho: "Meu querido Jodok", sua forma de xingamento: "Filho de um Jodok" e sua maneira de praguejar: "Pro Jodok que te carregue". Ele não dizia mais: "Eu tenho fome", ele dizia "Eu tenho Jodok", e nem dizia mais "eu", aí ficava: "Jodok tem Jodok". Ele pegou o jornal, abriu a página "Jodok Jodok - crimes e desastres" e leu em voz alta: "Na Jodok passada aconteceu na Jodok perto de Jodok um Jodok, que causou duas Jodoks. Um Jodok ia pela Jodok para Jodok. Algum Jodok depois aconteceu na Jodok para Jodok um Jodok com um Jodok. Jodok Jodok e seu Jodok, Jodok Jodok, foram socorridos por um Jodok mas chegaram mortos ao Jodok."

Vovó tampou os ouvidos e gritou: "Eu não posso mais ouvir isso, eu não agüento mais". Mas vovô não parou. Não parou durante toda a sua vida, e vovô ficou muito velho e eu gostava muito dele. E mesmo que no final ele não dissesse mais nada além de Jodok, nós dois sempre nos entendíamos muito bem. Eu era muito pequeno e vovô muito velho, ele me pegava no colo e "jodokava a Jodok do Jodok Jodok" quer dizer:"Ele me contava a história do tio Jodok", eu adorava essa história e todos que eram mais velhos que eu, mas mais novos que vovô não entendiam nada e não queriam que ele me pegasse no colo e quando ele morreu eu chorei muito.

Eu disse para todos os parentes que em vez de Friedrich Glausner deveriam escrever Jodok Jodok, vovô teria desejado assim. Não me deram ouvidos, por mais que eu chorasse.

Mas infelizmente, infelizmente essa história não é verdadeira, e infelizmente meu avô não era nenhum mentiroso, e ele infelizmente não ficou muito velho. Eu ainda era muito pequeno, quando ele morreu, e só me lembro que ele um dia disse: "Quando tio Jodok ainda era vivo", e minha avó, da qual eu não gostava muito, foi bem rude e gritou: "Pára com esse teu Jodok!" e aí vovô ficou muito quieto e triste e pediu desculpas. Eu fiquei com muita raiva - foi a primeira que ainda consigo lembrar - e gritei: "Se eu tivesse um tio Jodok eu não falaria de outra coisa!"

E se vovô tivesse feito isso talvez ele tivesse vivido mais e eu ainda teria um avô e nós nos entenderíamos bem.

quarta-feira, 18 de maio de 2005


Entre as muitas maluquices da professora, está nunca deixar datas passarem em branco. E já temos um mês de comentários do sempre presente Anônimo (podem verificar no post quase suicida da professora), o que não pode passar sem uma homenagem
Eis aí: template novinho em folha, devidamente decorado, cheio de tre-lé-lés... Vai ficar muito melhor depois que eu tiver mais tempo para alterar algumas coisas e inserir outras. Quem sabe no fim de semana? Atenção: Comentários agora só na Agendinha. (que por misteriosos motivos técnicos, está grudadinha na data do post anterior. Mais tarde, tudo será resolvido! Chamarei o zelador!)
Se houver mais tempo, posto algo mais interessante ainda esta semana. Senão, ficamos apenas com a comemoração. Parabéns ao Anônimo, que recebe no boletim um 10 bem bonito, por participação em aula e assiduidade.
E parabéns à professora, que está desvendando o estranho mundo do HTML. Nem ela acredita!!!

sábado, 14 de maio de 2005


E desce a cortina escura e aveludada sobre o palco do céu.

Quem perfurou toda a cortina
para que o dia pudesse nos observar lá de trás?

*
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Estava aqui pensando, como costumo fazer. Meu Pensar passa por evoluções, revoluções e até involuções de difícil compreensão. Comecei pensando apenas com meus botões até notar que poucas das minhas roupas têm botões. "Que coisa lamentável", pensei (de novo). "Então estou sempre pensando sozinha?" "E se é meu Pensar quem mais fala, e ele pensa e fala sozinho, toda a minha vida tem sido um patético monólogo! Tudo bem..."pensei, depois de pensar um pouco mais. Estava apenas pensando comigo mesma, o que não é pouca coisa. Tenho sido, há mais de 20 anos, minha mais fiel companhia... Ainda que não seja a melhor, aprendi neste tempo a conviver quase pacificamente com ela. (Ela? Ela quem? Ah, sim... Ela!)
Isso não acontece sempre assim. Penso de maneiras estranhas. Pergunto-me se é assim, neste mesmo correr alucinado que pensam todas as pessoas. Como é que meus sempre presentes leitores costumam pensar?
Dia desses peguei meu Pensar pensando sozinho, sem sequer dividir suas palavras comigo. Aborrecida com o tal pensamento rebelde, percebi que - talvez para desculpar-se - ele pôs-se a conversar com um personagem de literatura. Foi quando me dei conta que ele faz isso desde que comecei a ler: sempre conversou com meus personagens preferidos - e às vezes, com os mais odiados também. Com o passar do tempo, começaram a acontecer revoluções no bate-papo do meu pensar. Vez ou outra, me descobri conversando com amigos que não vejo há muito tempo. Meu Pensamento já montou diálogos bobos, românticos e até brigas. Com interlocutores de diferentes espécies: amigos, inimigos, meros conhecidos e muitos, muitos personagens. Foi num diálogo desses, com um interlocutor dessa última categoria, que conquistei meu primeiro namorado, um personagem do qual, ainda hoje sinto saudades...
De um tempo para cá, meus interlocutores têm sido sempre de uma mesma espécie, muito evoluida: amigos virtuais que, muitas vezes, sequer sabem que existo. Meu Pensamento é capaz de interessar-se por um outro Pensamento no Orkut, para pouco depois manter altos papos com o recém-conhecido. O pior, é que, na maioria das vezes, os pensamentos - o meu e o do desconhecido - são capazes de discutir e quase brigar! Já disse ao meu Pensamento que isso não é muito civilizado, mas ele parece não querer entender...
O mais intrigante: ao contrário do que poderia parecer, meus interlocutores não são pura e simplesmente criação do meu Pensamento. Eles têm maneiras, gestos, opiniões e falares próprios. Não tenho o menor domínio sobre o que pensam ou falam meus interlocutores de pensar. Às vezes, surpreendem-me com idéias que nunca haviam passado aqui, de outras, falam coisas que chegam a deixar-me envergonhada... "Psiu, Pensamento!" sussurro para que somente ele me ouça. "Vá falar este tipo de coisa em sua própria casa, aqui não!"
E nesse pensar maluco, cheguei à conclusão de que meu Pensamento sabe virar-se bem, mesmo sem botões. (Que conclusão grandiosa!) Sim, é uma relação estranha, essa minha entre meu Pensamento e os alheios. Nem sei o que pensar dela...

quarta-feira, 11 de maio de 2005


Em casa, apoiada na janela apenas para fugir das obrigações acumuladas durante o dia, pressentiu a sombra de seu chapéu - muito embora ele jamais houvesse usado um chapéu. Assim sentiu, mas não tentou sequer seguir a sombra com o olhar. Apenas permaneceu à janela, pensando se seria melhor assim. Afinal, perseguir sombras pode ser, às vezes, tudo o que é possível fazer!

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Não demorou muito até que a sentisse mais uma vez. Aquela sombra insistente que, enquanto buscada no parque pela moça, fizera questão de não passar. Agora que a lembrança do parque escorria pelos dedos nebulosos do tempo, a sombra do chapéu que ele não usava insistia em persegui-la. Passava de lá para cá sob a janela, ou ao menos ela pensava sentir a sombra passando. E pensava também ser a causa daquele passar insistente. Podia ser ou não, desde q ela acreditasse ser. Acreditando, fazia com que realmente assim fosse, embora o moço mal soubesse disso. E ele? Passava, realmente. Talvez a caminho da padaria... Ela não sabia para onde ele ia. E a ignorância da realidade desenhava um melancólico sorriso no rosto da jovem, que retirou uma pétala lilás de dentre as páginas do livro... Ele passava afinal, e era bom, e era tudo o que importava... Embora já nem fizesse diferença... Ou fazia?!

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Professora Maluquinha - no momento Sapatinho de Cristal - deseja a todos os seus fidelíssimos leitores uma boa madrugada. E até amanhã!

domingo, 8 de maio de 2005

O relógio ali na sala
tique-taqueando avisa:
"Passa o tempo, passa a vida,
só meu cantar se eterniza."

quinta-feira, 5 de maio de 2005


Dia desses, começamos a ensaiar a musiquinha de dia das mães, para a apresentação amanhã. Não sei quem trouxe o CD, mas a música é de alguma cantora evangélica e a melodia é lenta, lenta... Às vezes me lembra algumas trilhas sonoras de desenhos Disney... Provocam arrepio por motivo nenhum, talvez apenas pela voz gelada que alcança as últimas notas da escala musical. Já não estava gostando da música - q será mantida, queira eu ou não - quando percebi uma aluna com os olhinhos cheios de lágrimas. Joyce é pequenininha, bem miúda mesmo, apesar de já ter sete anos. Super calma, ótima aluna, e etc e etc... Acabo de descobrir nela ou uma sensibilidade fora do comum ou algum problema familiar. Não quis ensaiar a música, preferiu apenas fazer um desenho. Hoje mudou de idéia, me disse que gostaria, sim, de cantar para a mãe. Ensaiou, firme e forte, as lágrimazinhas escorrendo pelo rostinho... (tudo tão inhozinho!)

Voltando para casa da faculdade, entro num ônibus super diferente. O q difere não é o carro, nem os bancos, a roleta ou qualquer outra coisa parecida, e sim, a atmosfera respirada lá dentro... Havia um circo armado dentro do ônibus!!! Um homem caracterizado apenas por um nariz vermelho alegrava o pessoal. Contou piadas, apelidou todos os passageiros com nomes de artistas famosos, cantou parabéns para o trocador, fez com que os passageiros cantassem "Atirei o pau no gato" em uníssono... De vez em qd gritava: "Luzes, produção!!!" E o motorista, solícito, piscava as luzes do ônibus. Divertidíssimo! O homem chegou a encenar que encenava Romeu e Julieta com uma passageira mais desinibida... Hilariante! A vida precisa mesmo de algo que a faça gargalhar ao fim do dia, para que esteja pronta para recomeçar o dia seguinte. Pensei logo na Cigarra, que cantava enquanto as Formigas trabalhavam. Na fábula original, a Cigarra "dança"; mas eu sempre acreditei q a eficiência das Formigas se devia, antes de mais nada, ao canto da Cigarra. A profissão de Cigarra do ônibus deveria ser mais difundida. E andar de ônibus no fim do dia seria um pouco menos desgastante. Seria bom, até. Quem sabe? Palmas para ele, o alegre comediante do ônibus das 21:15hs!!!

Queria pegar um livro do Quintana emprestado na biblioteca, mas ainda não renovei minha carteirinha... Ai, ai, agora só semana q vem. Queria tanto ler Quintana no final de semana! E ter uma boa desculpa pra não fazer os deveres de inglês... Tinha q ler "Morte em Veneza" tbm...

Ei, descobri o segredo: Não almoçarás antes de dar aula... deveria ser mandamento - e já é - pelo menos na minha cartilha. A diferença entre dar uma aula de barriga cheia ou vazia é q funciono muito mais rápido qdo estou com fome. E sem sono... Perguntas que não devem ser feitas: Pq sempre que planejo uma aula legal falta metade da turma? Pq os alunos aparecem e desaparecem como se participassem de um show de mágicas? Como um aluno q só surge (magicamente) duas vezes em 10 aulas pretende aprender alemão?! Hm, deixa pra lá, vai q um aluno me lê... Nunca se sabe...

Esqueci de fazer a redação de alemão, tvz nem dê tempo amanhã. Seria bom q desse. Ouvi dizer q o blogger ficará em recesso durante o final de semana. Que poxa... Descobri q tomar café na Saraiva é muuuuito bom. E que versos são palavras penduradas no varal, à espera de serem recolhidos. Comer chocolate lendo estraga o livro mas apura o sabor - do chocolate e da leitura. Tanta coisa pra se dizer, tão pouco tempo para se ordenar pensamentos... Pensamentos desordenados esses meus. Como eu.

Pensando, me vi pensando em como, afinal, as pessoas pensam... Sei lá, será possível que todos pensem da mesma forma? Não me refiro aos pensamentos que correm lá por dentro, mas à maneira como eles correm. Pensava isso com meus botões quando percebi que sequer carregava botões. E que portanto, pensava sozinha... Dialogo comigo mesma, mas nunca sou eu quem responde. É outro... Às vezes é vc, caro leitor! Hum... Assunto demasiado extenso para uma noite de quinta feira.

Quintas feiras são dias muito cansativos, durante os quais só me sustento em pé pq pressinto a sexta feira. Que por sua vez, anuncia um sábado... E vamos parar por aí antes que chegue outra segunda-feira.

A menina sob o caramanchão não volta mais ao parque. Agora lê debruçada sobre o peitoril da janela de mármore. Tenho muito a falar sobre ela, mas agora bateu um sono... Deixemo-la lá, (lá, lá, lá...) lendo seu livro, despreocupadamente. Ela já chegou a um ponto tal em que, apesar de vê-lo lá no parque, sequer sente curiosidade em saber o q ele faz ali. Será assim, até que mais alguém passe, perguntando o que ela lê. Enquanto isso não acontece, a menina apena vira as páginas, marcando aqui e ali com uma pétala lilás....

Pensamentos desordenados. Muito, muito desordenados...
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Não posso deixar de comentar: fiz questão de postar hj. Por dois motivos:
1. Atendendo a pedidos (Obrigado, obrigado!!!)
2. O dia de hj só se repetirá daqui há mil anos. Quinta-feira, 05/05/05. E meu cachorro faz um ano hj.

Tá, a data pode se repetir daqui a mil anos, o dia não. O dia de hj é único e é meu. Quero prendê-lo nessas linhas virtuais. Embora saiba q ele vai fugir, assim q bater meia-noite - tvz pense ser a Cinderela!
Estou com sono. A Louca ameaça escrever bobagens... tenho medo dela. Boa noite! Volte sempre!