Um blog que deverá ser sobre a vida, a casa nova, o casamento, as viagens e o que vier. Um pouco mais de Diário, um pouco menos de textos insones. A menos que dê insônia. ;)
sexta-feira, 27 de maio de 2005
História que a flor trouxe
Ventava... Folhas e flores despetaladas giravam em pequenos rodamoinhos, enfeitando mais uma tarde triste. A menina, debruçada sobre o peitoril de mármore, lia mais um livro. Acompanhava a história docilmente, deixando que o vento virasse as páginas para ela, numa concentração vagamente desconcentrada. Foi quando uma pétala lilás, enviada por um vento travesso, pousou gentilmente sobre a página que lia.
Neste instante, o livro tornou-se outro, e a moça lia uma história já muito conhecida por ela. Nela, o moço passava pelo parque cumprimentando-a, dia a dia, até esquecê-la. Até não passar mais. Mas ela o esperava sempre, até convencer-se de que ele não vinha mais. A menina deixava o parque, sem rumo, para trancar-se em casa, onde esperava, nunca mais o moço passasse. E ele não passava mesmo, estava escrito assim, no livro. Tudo o que passava era aquela sombra de chapéu nunca usado. Sombra rápida, fugaz, mas uma sombra que fazia ventar e agitava as flores na janela. E provocava o sorriso teimoso e triste. Como já conhecia essa parte da história, a menina apenas passou os olhos sobre os parágrafos seguintes, pulando logo para o novo capítulo. Esperançosa, acreditava finalmente poder ler pouco adiante uma história mais feliz. Surpresa, deparou-se com ele, ali, logo na primeira linha.
Ele, as ondas de seu cabelo, o chapéu que não usava e o sorriso musical que a encantara. Caminhava elegantemente por sua rua, até parar em frente à sua porta. Nos braços fortes, uma braçada de flores em diversos tons de azul, rosa e lilás. O mesmo lilás daquela pétala que o vento lhe trouxera.
Angustiada, a moça perguntou à si mesma dentro do livro porque se demorava na janela, ao invés de correr para a porta. Ao invés de atirar-se naqueles braços. Ao invés de fugir com ele para longe do parque, à procura de um outro parque, onde afinal, tudo poderia ser diferente. Um capítulo onde todos os futuros do pretérito conjugados por ela se tornariam realidade!
domingo, 22 de maio de 2005
Amor Antigo
De todos os meus amores, o mais forte, com certeza, é meu amor pelos livros. Não falo de um amor prosaico ou vulgar, nem de um sentimento figurado, mas de algo real, um amor autêntico, digno de figurar em romances. E se não fosse meu amor pelos livros, certamente não haveria histórias de amor para serem contadas pela Professora.
Minha história com os livros já vem de um longo tempo, provavelmente é anterior à minha alfabetização. Ainda não sabia falar, meu pai já deixava livros espalhados pelo berço. Conta-se que, já nesse tempo, eu os abraçava, beijava, mordia e dormia juntinho, em visível demonstração de amor.
quinta-feira, 19 de maio de 2005
Exposição de Trabalhinhos
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Jodok manda lembranças
Só conheço o seu nome: Jodok.
Também não conheço outra pessoa com esse nome.
Vovô começava as suas histórias com: "Quando tio Jodok era vivo" ou com "Quando fui visitar o tio Jodok" ou "Quando tio Jodok me deu uma gaitinha de boca". Mas ele nunca contava nada do tio Jodok, apenas do tempo em que Jodok era vivo, da visita a Jodok, do presente de Jodok.
E quando a gente perguntava: "Quem foi tio Jodok?", então ele dizia: "Um homem inteligente".
Se bem que vovó não conhecia nenhum tio assim e meu pai ria muito quando escutava esse nome. E vovô ficava bravo quando papai ria, aí vovó dizia: "Sim, sim, o Jodok" e vovô ficava satisfeito. Por muito tempo eu imaginei que tio Jodok tinha sido guarda florestal, porque um dia comentei com vovô que eu queria ser guarda florestal e ele disse: "Tio Jodok iria gostar muito." Mas quando eu quis ser maquinista ele disse o mesmo e também quando eu não quis ser nada.
Vovô sempre dizia: "Tio Jodok iria gostar muito". Mas vovô era um mentiroso. Eu gostava dele, mas em sua longa vida ele tinha se tornado um mentiroso. Muitas vezes ele ia até o telefone, levantava o fone, discava um número e dizia: "Bom dia, tio Jodok, como vai, tio Jodok, não, tio Jodok, claro, com certeza, tio Jodok.", e todos nós sabíamos que ele só fingia e ficava segurando o gancho com a outra mão.
Vovó também sabia, mas mesmo assim reclamava: "Pára de telefonar, isso fica muito caro". E vovô dizia: "Tenho que desligar agora, tio Jodok" e voltava dizendo: "Jodok manda lembranças". Só que ele sempre sempre tinha dito: "Quando tio Jodok era vivo", e agora ele já dizia: "Temos que visitar o tio Jodok uma hora dessas". Ou dizia: "Tio Jodok vem nos visitar com certeza", e ao mesmo tempo batia a mão sobre o joelho, mas isso não ficava muito convincente, ele percebia e ficava quieto, então deixava seu Jodok de lado por algum tempo.
E nós respirávamos, aliviados. Mas então ele recomeçava: Jodok telefonou. Jodok sempre disse. Jodok é da mesma opinião. O chapéu daquele homem é igual ao do tio Jodok. Tio Jodok gosta de passear. Tio Jodok agüenta qualquer frio. Tio Jodok gosta de animais tio Jodok passeia com eles em qualquer frio tio Jodok com os animais passeia tio Jodok agüenta qualquer frio agüenta tio Jodok. O T-i-o J-o-d-o-k.
Quando nós, seus netos, o visitávamos, ele não perguntava: "Quanto é duas vezes sete", ou "Qual é a capital da Argentina", mas sim: "Como se escreve Jodok?" Jodok se escreve com um J longo e sem ck, e o mais terrível em Jodok eram os dois Os. A gente não agüentava mais ouví-los, no quarto de vovô, os Os de Joodook.
E vovô amava os Os de Jooodoook e dizia: Tio Jodok cozinha bons feijões. Tio Jodok louva o pólo norte. Com o passar do tempo, ficou tão terrível que ele dizia tudo com O: Tio Jodok voi nos vosotor, olo ó om homom ontologonto, vomos vosotor o tio omonhõ. TioJodok voi nosvosotor, oloó omhomom ontologonto, vomos vosotor o tioomonhõ.
As pessoas foram ficando com medo do vovô, e ele até começou a afirmar que ele não conhecia nenhum Jodok, nunca tinha conhecido. Que nós tínhamos começado com aquilo. Que nós tínhamos perguntado: "Quem é tio Jodok?" Não adiantava brigar com ele. Para ele não existia mais nada além de Jodok. Ele já dizia para o carteiro: "Bom dia, Sr. Jodok", depois me chamou de Jodok e depois a todo mundo. Jodok era a sua palavra de carinho: "Meu querido Jodok", sua forma de xingamento: "Filho de um Jodok" e sua maneira de praguejar: "Pro Jodok que te carregue". Ele não dizia mais: "Eu tenho fome", ele dizia "Eu tenho Jodok", e nem dizia mais "eu", aí ficava: "Jodok tem Jodok". Ele pegou o jornal, abriu a página "Jodok Jodok - crimes e desastres" e leu em voz alta: "Na Jodok passada aconteceu na Jodok perto de Jodok um Jodok, que causou duas Jodoks. Um Jodok ia pela Jodok para Jodok. Algum Jodok depois aconteceu na Jodok para Jodok um Jodok com um Jodok. Jodok Jodok e seu Jodok, Jodok Jodok, foram socorridos por um Jodok mas chegaram mortos ao Jodok."
Vovó tampou os ouvidos e gritou: "Eu não posso mais ouvir isso, eu não agüento mais". Mas vovô não parou. Não parou durante toda a sua vida, e vovô ficou muito velho e eu gostava muito dele. E mesmo que no final ele não dissesse mais nada além de Jodok, nós dois sempre nos entendíamos muito bem. Eu era muito pequeno e vovô muito velho, ele me pegava no colo e "jodokava a Jodok do Jodok Jodok" quer dizer:"Ele me contava a história do tio Jodok", eu adorava essa história e todos que eram mais velhos que eu, mas mais novos que vovô não entendiam nada e não queriam que ele me pegasse no colo e quando ele morreu eu chorei muito.
Eu disse para todos os parentes que em vez de Friedrich Glausner deveriam escrever Jodok Jodok, vovô teria desejado assim. Não me deram ouvidos, por mais que eu chorasse.
Mas infelizmente, infelizmente essa história não é verdadeira, e infelizmente meu avô não era nenhum mentiroso, e ele infelizmente não ficou muito velho. Eu ainda era muito pequeno, quando ele morreu, e só me lembro que ele um dia disse: "Quando tio Jodok ainda era vivo", e minha avó, da qual eu não gostava muito, foi bem rude e gritou: "Pára com esse teu Jodok!" e aí vovô ficou muito quieto e triste e pediu desculpas. Eu fiquei com muita raiva - foi a primeira que ainda consigo lembrar - e gritei: "Se eu tivesse um tio Jodok eu não falaria de outra coisa!"
E se vovô tivesse feito isso talvez ele tivesse vivido mais e eu ainda teria um avô e nós nos entenderíamos bem.
quarta-feira, 18 de maio de 2005
Entre as muitas maluquices da professora, está nunca deixar datas passarem em branco. E já temos um mês de comentários do sempre presente Anônimo (podem verificar no post quase suicida da professora), o que não pode passar sem uma homenagem
sábado, 14 de maio de 2005
E desce a cortina escura e aveludada sobre o palco do céu.
Quem perfurou toda a cortina
para que o dia pudesse nos observar lá de trás?
Estava aqui pensando, como costumo fazer. Meu Pensar passa por evoluções, revoluções e até involuções de difícil compreensão. Comecei pensando apenas com meus botões até notar que poucas das minhas roupas têm botões. "Que coisa lamentável", pensei (de novo). "Então estou sempre pensando sozinha?" "E se é meu Pensar quem mais fala, e ele pensa e fala sozinho, toda a minha vida tem sido um patético monólogo! Tudo bem..."pensei, depois de pensar um pouco mais. Estava apenas pensando comigo mesma, o que não é pouca coisa. Tenho sido, há mais de 20 anos, minha mais fiel companhia... Ainda que não seja a melhor, aprendi neste tempo a conviver quase pacificamente com ela. (Ela? Ela quem? Ah, sim... Ela!)
quarta-feira, 11 de maio de 2005
Em casa, apoiada na janela apenas para fugir das obrigações acumuladas durante o dia, pressentiu a sombra de seu chapéu - muito embora ele jamais houvesse usado um chapéu. Assim sentiu, mas não tentou sequer seguir a sombra com o olhar. Apenas permaneceu à janela, pensando se seria melhor assim. Afinal, perseguir sombras pode ser, às vezes, tudo o que é possível fazer!
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Não demorou muito até que a sentisse mais uma vez. Aquela sombra insistente que, enquanto buscada no parque pela moça, fizera questão de não passar. Agora que a lembrança do parque escorria pelos dedos nebulosos do tempo, a sombra do chapéu que ele não usava insistia em persegui-la. Passava de lá para cá sob a janela, ou ao menos ela pensava sentir a sombra passando. E pensava também ser a causa daquele passar insistente. Podia ser ou não, desde q ela acreditasse ser. Acreditando, fazia com que realmente assim fosse, embora o moço mal soubesse disso. E ele? Passava, realmente. Talvez a caminho da padaria... Ela não sabia para onde ele ia. E a ignorância da realidade desenhava um melancólico sorriso no rosto da jovem, que retirou uma pétala lilás de dentre as páginas do livro... Ele passava afinal, e era bom, e era tudo o que importava... Embora já nem fizesse diferença... Ou fazia?!
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Professora Maluquinha - no momento Sapatinho de Cristal - deseja a todos os seus fidelíssimos leitores uma boa madrugada. E até amanhã!
domingo, 8 de maio de 2005
quinta-feira, 5 de maio de 2005
Dia desses, começamos a ensaiar a musiquinha de dia das mães, para a apresentação amanhã. Não sei quem trouxe o CD, mas a música é de alguma cantora evangélica e a melodia é lenta, lenta... Às vezes me lembra algumas trilhas sonoras de desenhos Disney... Provocam arrepio por motivo nenhum, talvez apenas pela voz gelada que alcança as últimas notas da escala musical. Já não estava gostando da música - q será mantida, queira eu ou não - quando percebi uma aluna com os olhinhos cheios de lágrimas. Joyce é pequenininha, bem miúda mesmo, apesar de já ter sete anos. Super calma, ótima aluna, e etc e etc... Acabo de descobrir nela ou uma sensibilidade fora do comum ou algum problema familiar. Não quis ensaiar a música, preferiu apenas fazer um desenho. Hoje mudou de idéia, me disse que gostaria, sim, de cantar para a mãe. Ensaiou, firme e forte, as lágrimazinhas escorrendo pelo rostinho... (tudo tão inhozinho!)
Voltando para casa da faculdade, entro num ônibus super diferente. O q difere não é o carro, nem os bancos, a roleta ou qualquer outra coisa parecida, e sim, a atmosfera respirada lá dentro... Havia um circo armado dentro do ônibus!!! Um homem caracterizado apenas por um nariz vermelho alegrava o pessoal. Contou piadas, apelidou todos os passageiros com nomes de artistas famosos, cantou parabéns para o trocador, fez com que os passageiros cantassem "Atirei o pau no gato" em uníssono... De vez em qd gritava: "Luzes, produção!!!" E o motorista, solícito, piscava as luzes do ônibus. Divertidíssimo! O homem chegou a encenar que encenava Romeu e Julieta com uma passageira mais desinibida... Hilariante! A vida precisa mesmo de algo que a faça gargalhar ao fim do dia, para que esteja pronta para recomeçar o dia seguinte. Pensei logo na Cigarra, que cantava enquanto as Formigas trabalhavam. Na fábula original, a Cigarra "dança"; mas eu sempre acreditei q a eficiência das Formigas se devia, antes de mais nada, ao canto da Cigarra. A profissão de Cigarra do ônibus deveria ser mais difundida. E andar de ônibus no fim do dia seria um pouco menos desgastante. Seria bom, até. Quem sabe? Palmas para ele, o alegre comediante do ônibus das 21:15hs!!!
Queria pegar um livro do Quintana emprestado na biblioteca, mas ainda não renovei minha carteirinha... Ai, ai, agora só semana q vem. Queria tanto ler Quintana no final de semana! E ter uma boa desculpa pra não fazer os deveres de inglês... Tinha q ler "Morte em Veneza" tbm...
Ei, descobri o segredo: Não almoçarás antes de dar aula... deveria ser mandamento - e já é - pelo menos na minha cartilha. A diferença entre dar uma aula de barriga cheia ou vazia é q funciono muito mais rápido qdo estou com fome. E sem sono... Perguntas que não devem ser feitas: Pq sempre que planejo uma aula legal falta metade da turma? Pq os alunos aparecem e desaparecem como se participassem de um show de mágicas? Como um aluno q só surge (magicamente) duas vezes em 10 aulas pretende aprender alemão?! Hm, deixa pra lá, vai q um aluno me lê... Nunca se sabe...
Esqueci de fazer a redação de alemão, tvz nem dê tempo amanhã. Seria bom q desse. Ouvi dizer q o blogger ficará em recesso durante o final de semana. Que poxa... Descobri q tomar café na Saraiva é muuuuito bom. E que versos são palavras penduradas no varal, à espera de serem recolhidos. Comer chocolate lendo estraga o livro mas apura o sabor - do chocolate e da leitura. Tanta coisa pra se dizer, tão pouco tempo para se ordenar pensamentos... Pensamentos desordenados esses meus. Como eu.
Pensando, me vi pensando em como, afinal, as pessoas pensam... Sei lá, será possível que todos pensem da mesma forma? Não me refiro aos pensamentos que correm lá por dentro, mas à maneira como eles correm. Pensava isso com meus botões quando percebi que sequer carregava botões. E que portanto, pensava sozinha... Dialogo comigo mesma, mas nunca sou eu quem responde. É outro... Às vezes é vc, caro leitor! Hum... Assunto demasiado extenso para uma noite de quinta feira.
Quintas feiras são dias muito cansativos, durante os quais só me sustento em pé pq pressinto a sexta feira. Que por sua vez, anuncia um sábado... E vamos parar por aí antes que chegue outra segunda-feira.
A menina sob o caramanchão não volta mais ao parque. Agora lê debruçada sobre o peitoril da janela de mármore. Tenho muito a falar sobre ela, mas agora bateu um sono... Deixemo-la lá, (lá, lá, lá...) lendo seu livro, despreocupadamente. Ela já chegou a um ponto tal em que, apesar de vê-lo lá no parque, sequer sente curiosidade em saber o q ele faz ali. Será assim, até que mais alguém passe, perguntando o que ela lê. Enquanto isso não acontece, a menina apena vira as páginas, marcando aqui e ali com uma pétala lilás....
Pensamentos desordenados. Muito, muito desordenados...
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